11 junho 2021

AS SETE VIDAS DO GENERAL PHIBUN

Há dias, por ocasião da evocação do 75º aniversário da misteriosa morte do rei da Tailândia, Ananda Mahidol (Rama VIII), havia ali deixado a promessa de exemplificar em ocasião posterior quanto a política tailandesa daqueles tempos estava salpicada de episódios pitorescos de natureza palaciana que tornavam aceitável o que acontecera ao monarca em 9 de Junho de 1946. O protagonista desta história exemplar foi o general (posteriormente marechal) Luang Phibunsongkhram, correntemente citado pela versão reduzida do seu nome: Phibun. No período de grandes transformações políticas e sociais na Tailândia no quarto de século que vai de 1932 a 1957, o general Phibun foi o primeiro-ministro e o detentor do poder no país por 15 desses 25 anos: 1938-44 e 1948-57. Explicada a importância do homem, contemos a história, que começa numa noite de Novembro de 1938, estava a general a fardar-se no seu quarto para uma soirée - e apreciemo-lo acima fardado de gala! - quando uma bala lhe acertou de raspão no braço. O estupefacto general descobriu que o potencial assassino era, nada mais, nada menos, do que o seu próprio criado de quarto, que se escondera debaixo da cama e que, saindo lá de baixo, se preparava para lhe assestar um segundo tiro mais certeiro. O general fugiu assim como estava, em cuecas, e a perseguição pela casa fora, com o criado pessoal atrás de si de pistola em riste, terminou em bem para o primeiro-ministro, com o seu potencial assassino detido, embora a sua dignidade tivesse ficado algo amachucada. Já nessa altura, Phibun adquirira uma reputação de alguém com sorte. Anteriormente, ainda ele era ministro da Defesa, fora atingido a tiro, também de raspão, no pescoço, quando assistia a um jogo de futebol. Mas a sua mística só ficou definitivamente consagrada quando, cerca de um mês depois do segundo atentado, um terceiro teve lugar, desta vez tentando envenená-lo durante um jantar de cerimónia que ele próprio organizara, mais uma vez em sua própria casa. Este último episódio levou a que 38 convidados tivessem sido levados de urgência para o hospital para lavagens ao estômago. Apesar daquilo que estes dois episódios podem indiciar quanto à completa falta de jeito do general Phibun para contratar pessoal doméstico - criados de quarto mas também pessoal de cozinha... - eles não parecem ter perturbado a sua reputação junto das elites, descontando uma evidente - e previsível - relutância da alta sociedade tailandesa em aceitar convites para jantar em sua casa. Ironias à parte, Phibun prosseguiu a sua carreira nesta fase (1938-44) até se transformar numa espécie de Mussolini à tailandesa (abaixo). Conhecendo estas histórias rocambolescas de tentativas de assassinato envolvendo o homem-forte do país naquele mesmo período, creio que se pode argumentar que a morte misteriosa do monarca em 1946 até se torna compreensível.

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