19 de Junho de 1981. A notícia do controle do incêndio que grassara na Serra de Sintra era remetida para uma discreta página 11 do jornal. E contudo, o sinistro tinha tudo para ser um destaque: perdurara durante quatro dias; tivera lugar nas redondezas de Lisboa, na serra de Sintra; tivera dimensão, mobilizara «cerca de 500 homens de quase vinte corporações de bombeiros» e fora mesmo «considerado o segundo maior de sempre naquelas riquíssimas matas»; para rematar, e infelizmente, registara-se um acidente de viação que custara a vida de um bombeiro. Mas, apesar de todos esses atributos, não era a moda do jornalismo da época puxar tais tragédias para primeira página. Isso estaria guardado para o aparecimento das televisões privadas e a popularização dos directos ígneos. Até ao clímax de mau gosto mórbido representado pela cobertura do incêndio de Pedrógão Grande, dominada pelas imagens dos carros ardidos na estrada, que terá constituído o desmoronar desse voyeurismo em 2017. Porém, ainda sinal daqueles tempos, a notícia termina com a costumeira atribuição da origem do incêndio aos incendiários, «provavelmente a soldo». Eram tempos em que, sem qualquer hesitação, Marx e as razões económicas prevalecia sobre Freud e as razões psiquiátricas, quanto a explicações quanto ao que motivava a pulsão dos incendiários.
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