07 junho 2021

A IMPORTÂNCIA DA VOZ E DE QUEM A PORTA PARA AS FORMAÇÕES POLÍTICAS DO SÉCULO XXI

Esta notícia da eleição da nova líder do PAN como sua porta-voz desencadeou-me uma reflexão sobre os títulos dos cargos políticos, e como frequentemente eles nada têm a ver com a função desempenhada. Se formos a um passado quase centenário, torna-se um pouco embaraçoso perceber que a proeminência do cargo de secretário-geral, que se tornou indissociável do líderes dos partido de esquerda a partir do final do primeiro triénio do século XX, se deveu à pessoa de José Estaline que, a partir daquele cargo que até aí fora menor na estrutura do Partido Comunista Russo e, mantendo esse mesmo título de secretário-geral, veio depois a dominar partido e império (soviético). Foi um exemplo cristalino de como foi a pessoa que moldou a importância do cargo. Tão importante que todas as formações políticas da esquerda europeia passaram a adoptar aquela designação de secretário-geral para o seu líder, mesmo que o título não correspondesse à realidade do que fazia - por exemplo e no caso português, pensemos em Mário Soares, secretário-geral do PS entre 1973 e 1986, o tipo de pessoa que menos imaginaríamos a secretariar seja o que for!... Felizmente, as formações políticas modernas do século XXI quiseram romper com essa hipocrisia de designar por secretário-geral quem dirigia o partido e que afinal não secretariava nada, e quiseram experimentar outras designações mais convenientes para o cargo. Um dos exemplos dessas experiências foi o praticado em Portugal pelo Bloco de Esquerda. Ele houve um porta-voz (Francisco Louçã), para depois haver um coordenador (ainda Louçã), para depois haver dois coordenadores (um ele - João Semedo - e uma ela - Catarina Martins), para depois voltar a haver uma porta-voz (Catarina Martins). E terá sido este o modelo de maior sucesso. Tanto, pelo menos, que o PAN o copiou. A denominação de porta-voz que é adoptada mais acima por Inês Sousa Real tem a vantagem, sobre a de secretária-geral, de possuir mais ressonância mediática, considerando para mais a importância da voz na actualidade. O irónico da situação é que, tal como acontecia e acontece com os secretários-gerais, aquilo que se espera destas eleitas é que elas sejam muito mais do que apenas porta-vozes...

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