08 outubro 2021

OPINIÃO... TOLA

Abre-se um jornal de há precisamente quarenta anos (8 de Outubro de 1981), e tem-se oportunidade de ler a opinião do jornalista Nuno Ribeiro que, por sinal, ainda está no activo, no Público. O tema é a primeira ministra britânica da época, Margaret Thatcher, e o texto parece de uma clarividência - como os factos posteriores virão a comprovar - à João Marques de Almeida. Dão-na como completamente arrumada do ponto de vista político, depois de dois anos e meio no poder: Do fracasso económico à derrota política. E contudo e como hoje se sabe, Margarer Thatcher ainda iria continuar no poder por mais nove anos. Há erros de análise. Isto não é um erro de análise, isto é mera obtusidade política a que se concedeu um imenso espaço para se espalhar. Às vezes é importante e salutar recordar que as análises idiotas não começaram com João Marques de Almeida e o Observador e que este género de disparates não são um exclusivo da direita.

2 comentários:

  1. Caro A. Teixeira,

    Quase todas as revisoes historicas deste periodo (Inverno 1981/82) falam de como Thatcher estava imensamente fragilizada politicamente. Imensa contestacao externa e tambem dentro do partido conservador.
    Em 1981 havia od "bookies" aceitavam apostasy de quanto tempo ela se aguentaria como lider.
    O artigo que ponho em "link" abaixo e apenas um de varios mas foi publicado no Guardian.

    https://www.theguardian.com/politics/2013/apr/09/margaret-thatcher-falklands-gamble

    Alias, como explica o A.Teixeira o erro de calculo pela parte da junta militar Argentina ao invadir as Malvinas/Falklands pensado que nao ha forca animica do outro lado para contra-atacar sem ter em conta a imagem de fragilidade politica projectada pelo governo encabecado por Thatcher?

    Sem a crise das Malvinas/Falklands resolvida em 72 dias com vitoria decisiva britanica e altamente improvavel que Thatcher tivesse chegado ao final de 1982 como lider dos conservadores.

    Lembro tambem que termos como "Thatcherismo" ou "Dama de Ferro", tem genese muito posterior ao artigo de 1981 que o A.Teixeira aqui evoca...

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  2. Meu caro Lowlander

    O que me está a recordar é que em 1981 havia um Reino Unido nos “media”, e havia outro real. O primeiro fartava-se de cobrir os protestos nas ruas, dava imensa ressonância às divisões no gabinete a propósito das suas políticas anti-inflacionistas, andava com o recém-aparecido SDP “ao colo”, celebrando desabridamente as suas vitórias nas eleições intercalares, e Margaret Thatcher tinha sido crismada da «mais impopular primeira-ministra desde que foram criadas as sondagens à opinião pública». Isso tudo. Mas o país real e as relações de poder eram, comprovadamente, outra coisa completamente diferente. Era assim e não se aprendeu nada porque uma lição bem recente sobre estas mesmas ilusões entre o que é a sociedade noticiada e a sociedade real foram as eleições de Donald Trump e de Jair Bolsonaro.

    Quanto ao artigo do The Guardian que linka, faço notar que, mais do que «apenas um de vários», o The Guardian é... o The Guardian. Em revanche, eu não tenho o descaramento de linkar os artigos que o The Economist terá escrito sobre as políticas liberais da sra. Thatcher, que hão-de ser – tenho a certeza - um elogio rasgado.

    Quanto à guerra das Malvinas que refere, eu não explico o erro da Junta argentina. Remeto-me às explicações que me deram Martin Middlebrook e Max Hastings nos seus livros, de que aliás já aqui dei conta . As razões que constam desses dois livros são outras que não as que aponta. Aliás, o que ali vi enfatizado é que o comportamento britânico, a vontade de intervir militarmente, pode variar na razão inversa da fragilidade ou robustez da percepção da posição britânica nos panoramas nacional e internacional. Veja-se o que aconteceu no Suez em 1956. E veja-se o que não aconteceu no Vietname na década de 60, quando Harold Wilson não acompanhou os americanos, ao contrário do que acontecera na Coreia.

    Quanto à consequência do desfecho dessa guerra das Malvinas para a evolução política do Reino Unido, nomeadamente as eleições que Margaret Thatcher convocou em 1983, também já aqui deixei claro que considero que a vitória rotunda dos conservadores resultou mais do extremismo dos trabalhistas e do fraccionamento das oposições do que da popularidade pós-conflito dos conservadores. Conjugado com as particularidades do sistema eleitoral britânico, os tories aumentaram a sua representação (+ 58 lugares) apesar de terem perdido 700 mil votos . Ou seja, se Thatcher não estava tão frágil como a pintavam em 1981, também não estaria tão robusta como a passaram a descrever a partir de 1983.


    Em suma, os jornalistas, quando nos dão as suas opiniões, deveria servir para nos dizerem o que está a acontecer, não para nos dizerem o que eles desejariam que acontecesse ou, por arrastamento para se copiarem nas opiniões uns aos outros. Para mim, a «Maria ter ido com as outras» não serve de justificação para enganos do acima constatado. Por muito que as minha simpatias sejam as mesmas do “opinador” (como o eram em 1981), se o opinador me dá a opinião a mim e não sou eu a dar-lha a ele, é porque, à partida, ele estará mais qualificado do que eu sobre o assunto sobre o qual opina. E é patente que não estava. Para «achar» coisas estou cá eu e as minhas investigações, que regularmente descubro que são mais fundadas que as opiniões que leio.

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