04 outubro 2021

O INCIDENTE DE SALA

4 de Outubro de 1951. A Segunda Guerra Mundial na Europa terminara há mais de seis anos mas algumas das animosidades que gerara pareciam muito longe de estar encerradas, mesmo do outro lado do Mundo, em Jacarta, capital de uma Indonésia recém independente. Os protagonistas da história foram o canadiano Hugh Keenleyside, um quadro superior da ONU (fotografia superior), e Hjalmar Schacht, antigo ministro das Finanças do III Reich, por sinal um dos réus (absolvido) do julgamento de Nuremberga aqui evocado há três dias. Cumprindo o que cada vez me convenço mais ser uma tradição jornalística, o profissional que escreveu esta história só percebeu a parte da barracada, isto é, a recusa de Keenleyside em cumprimentar Schacht. A frase do primeiro pode ter sido mesmo aquela («Não posso apertar a mão...») ou então trata-se de uma elaboração do que Keenleyside efectivamente terá dito. Mas o que é factualmente errado é que a recepção em que a cena acontecera havia sido afinal dada pelo governo indonésio em honra de Keenleyside e não de Schacht, ao contrário, como se conta na notícia. Na verdade, o antigo ministro alemão fora contratado em Julho como consultor pelo governo indonésio e era nessa qualidade que se encontraria na recepção. - e por isso é que competiria a Schacht retirar-se depois do insulto, o que ele fez, de resto. Mas esses pormenores, que conferem sentido à história, parecem transcender o jornalista da agência France Press (F.P.) que assinou esta notícia. Aliás, que a presença de Schacht é um incómodo recorrente percebe-se por um outro episódio posterior, quando do seu regresso à Alemanha e o avião em que viajava fez escala em Israel - o que provocou protestos no parlamento israelita.

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