17 de Outubro de 1961. No quadro das movimentações políticas da guerra da Argélia, a FLN convocava uma manifestação entre a comunidade argelina emigrada em Paris. A manifestação, que se pretendia pacífica (já que se realizava na capital da potência colonial - o inimigo), visava protestar contra o recolher obrigatório imposto especificamente à comunidade argelina emigrada em França. Dos cerca de 90 mil imigrantes argelinos que então haveria na região da Grande Paris, cerca de uns 20.000 a 25.000 terão comparecido na manifestação. Ao contrário do que noticiavam os títulos dos jornais franceses que se podem ler acima, a manifestação não foi «violenta», hoje sabe-se que, por detrás da camuflagem mediática, o que foi violenta foi a repressão policial sobre os manifestantes. O balanço oficial foi de 3 mortos e 77 feridos (64 manifestantes e 13 polícias). Porém, cálculos posteriores e conforme o autor e o período abrangido, o verdadeiro número de mortos - por exemplo - terá sido de 30 a 50, ou 120 ou ainda 200. Onde não parece haver controvérsia é nos muitos milhares de manifestantes que foram detidos nessa noite: 7.500 é o número que se lê na primeira página do Le Figaro, 11.538 é o número publicado pelo Diário de Lisboa (abaixo) que noticiava aqueles acontecimentos à distância. No jornal português é notória a escalada entre a notícia publicada no dia 17 de Outubro, quando a prisão envolvera uns meros «sessenta a oitenta argelinos», e a do dia seguinte, quando as atenções já tinham sido desviadas para os 1.500 repatriamentos e o pormenor que um dos três mortos (oficiais) era «um francês de 30 anos». A realidade estava a ser escamoteada mas, por esta vez, a censura chegava importada, vinda de Paris.
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