04 outubro 2021

O «SÍNDROME CARLOS QUEIROZ». A CRENÇA NA COMPETÊNCIA ABSOLUTA

Somos um país muito propenso a estes encantamentos e isso só no faz mal. Ficou-me de emenda a última vez em que aderi à convicção colectiva de acreditar que, só por ter conquistado dois títulos mundiais de futebol júnior de enfiada (1989 e 1991), isso só por si era prova irrefutável que Carlos Queiroz era um treinador competentíssimo, fadado para os mais altos resultados desportivos. Claro que o futuro apenas veio comprovar que estávamos diante de um treinador competente, mas que os triunfos dependem de uma conjugação de circunstâncias que os incensados normalmente não dominam.
Agora, porque as sociedades não têm memória e são mesmo, assumamo-lo, muito estúpidas, estamos a assistir, no seguimento do sucesso da campanha de vacinação, a um fenómeno muito semelhante, só que agora protagonizado pelo almirante Gouveia e Melo (há 30 anos também Carlos Queiroz era o professor Carlos Queiroz...). Superando mesmo Queiroz, que só se esperaria que elevasse o estatuto do futebol português mais alto, temos aqui na pessoa do almirante um salvador multi-facetado, a que, em jeito de meia brincadeira (acima), se começam a atribuir capacidades decididamente especiais.
Ora, vale a pena pôr os pés na terra, e lembrar o almirante ainda há pouco mais de dois anos e meio, a participar numa conferência internacional especializada para altos comandos navais, que recebeu a denominação de Surface Warships 2019. E vale a pena enfatizar que, mesmo faltando-lhe o camuflado que lhe dá tanto charme (mas com toda a competência que todos lhe reconhecem), era aquilo de que ele ali fala que ele fazia antes das vacinas (inglês macarrónico e tudo). Não será por culpa do próprio, mas talvez a salvação da pátria seja algo mais complexo e precise do contributo de muito mais gente.

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