21 de Agosto de 1945. O presidente Harry Truman anuncia a cessação de fornecimentos ao abrigo do programa «Lend Lease», conhecido em português como «empréstimo e arrendamento». Surgido em Março de 1941, ainda antes da entrada na guerra dos Estados Unidos, o programa permitia que os seus (futuros) aliados se pudessem abastecer de armamento e outros equipamentos industriais sem ter que os pagar de imediato. Ao longo dos quatro anos que o sistema perdurara, o maior beneficiário fora o Reino Unido, que recebera a maioria, cerca de 63% dos fornecimentos prestados ao abrigo deste regime muito favorável, seguido da União Soviética que fora o destino de cerca de 23% deles. Os outros aliados dos americanos (França, China, etc. ) haviam ficado com os 14% restantes. Enquanto perdurou, o sistema permitiu que os co-beligerantes com os Estados Unidos se preocupassem com a guerra agora, e só se preocupassem com as contas depois. O gesto de Harry Truman de há 75 anos, suscitado apenas alguns dias depois do Japão ter assumido a derrota, obrigou-os a preocuparem-se com as contas agora. Ironicamente, a razão para a atitude nem fora condicionar o comportamento do maior beneficiário, os britânicos, que, compreensivelmente, queriam atrasar o mais possível a revogação do regime excepcional; os principais visados por este «tirar de tapete» abrupto eram os soviéticos, que progrediam conquistando no Extremo Oriente sem que os americanos agora precisassem deles. Os imperativos da política às vezes impõem-se, por muito que os aliados mais próximos saiam lesados: a verdade é que os britânicos ficaram completamente entalados e, poucos dias passados, o primeiro-ministro britânico Clement Attlee foi ao Parlamento admitir que assim (a pagar) não ia dar... Dias depois, a notícia do Diário de Lisboa não falava dessa admissão de Attlee, falava do que se escrevia no Daily Herald, o jornal trabalhista que tinha uns redactores, muito engajados, convictos e que até ameaçavam com «represálias», mas que nitidamente não estavam a ver bem o filme... (abaixo): os Estados Unidos tinham a faca e o queijo na mão. O resto da imprensa britânica até se mostrava lucidamente resignada, mas o jornalismo pode ser isto mesmo, é ir buscar «a única nota combativa» e dar-lhe relevo, em vez de elucidar o leitor... Escrever história, evidentemente, sempre foi outra coisa.
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