27 de Agosto de 1940. O Diário de Lisboa dava conta do combate que as autoridades desenvolviam contra o nudismo nas nossas praias, em plena época balnear. A notícia desse combate ia parar às páginas centrais, mesmo ao lado de uma outra, que dava conta da captura de uma quadrilha de assaltantes de residências. Enfim, tudo combates em que a polícia não gostava de aparecer como vencida... Começava a notícia: «Continuou hoje a fiscalização nas praias sobre os trajos impróprios para tomar banho». Afinal, nudismo talvez fosse uma expressão excessiva para designar o que estaria em causa... Seria mais uma questão de indumentárias, do que elas cobriam e do que elas exporiam. Haviam estado envolvidos na operação «cerca de sessenta agentes, auxiliados por alguns guardas cívicos» e as brigadas haviam percorrido as praias do Guincho, Cascais, Estoril, São Pedro do Estoril, Santo Amaro de Oeiras, Paço de Arcos e Caxias na margem direita do Tejo e as da Trafaria, Costa da Caparica, Mar da Lage e Cova do Vapor na outra banda. Como se destacava no título, no Estoril (ao lado direito, uma fotografia do Tamariz desses anos), haviam sido presos dois banhistas, embora a notícia não dê mais detalhes quanto às razões da detenção. «Pictoresca» (sic) era como era classificada a atitude de «um rapaz novo» que, numa dessas praias, se havia apresentado «à hora do banho de chapéu alto, sobrecasaca, e calças arregaçadas», e que, tendo cumprimentado «gravemente os circunstantes», se lançou depois à água assim vestido. Como se vê, já há oitenta anos a prática da ironia podia revelar-se um exercício ingrato que esbarrava com a incompreensão dos destinatários. A Lisboa de Agosto de 1940 tornara-se uma cidade anormalmente cosmopolita, com as praias em redor repletas de refugiados de guerra, a aproveitar o Verão ameno que as circunstâncias lhes havia proporcionado, aguardando a evolução da guerra e que destino dar à sua vida. Esses seriam os inimigos do «senhor comandante Sales Henriques da Polícia Marítima».
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