Acabei de assistir em directo à amaragem da cápsula da SpaceX (acima). Desta vez e com uma melhor acuidade informativa, já houve jornais que se dispensaram de classificar o acontecimento de histórico e que até mencionaram que o episódio é uma reencenação de acontecimentos que tiveram lugar por repetidas vezes durante as décadas de 60 e 70, embora o facto não seja apresentado propriamente dessa maneira... O que esses jornais dizem é que a última vez que uma amaragem de uma cápsula teve lugar foi há 45 anos. É verdade, por sinal eu assisti a essa amaragem de há 45 anos, deu-se em 24 de Julho de 1975 (veja-se abaixo, do lado direito, a programação de TV para esse dia, com o directo em destaque). Confesso que hoje me deu uma certa nostalgia desses momentos. Vale a pena acrescentar que assisti a essa transmissão com uma atitude francamente irritada com os comentários produzidos pela RTP. Eu passo a explicar: a amaragem da Apollo ocorria no quadro do único voo - esse sim, histórico - conjunto entre uma nave tripulada americana Apollo e uma nave tripulada soviética Soyuz. O propósito principal da missão era mais político do que verdadeiramente científico, procurando simbolizar uma nova atitude reciprocamente mais amena entre as duas superpotências. E o que me irritava era que a locução da RTP, antes pelo contrário, não se mostrava nada integrada nesse espírito conciliador. Por um lado, quiçá por estar plenamente integrada no espírito do Processo Revolucionário em Curso, haviam arranjado um novo comentador, que os dois tradicionais que a estação sempre usara para apresentarem aquele tema, José Mensurado e Eurico da Fonseca, haviam sido afastados, talvez por serem fascistas. Depois, porque o seu comentário era de uma parcialidade estúpida. Não havia outra maneira de a qualificar: estúpida. Depois de, três dias antes, a 21 de Julho, o comentador/camarada ter passado a transmissão (também em directo) da aterragem da Soyuz a tecer elogios rasgados à tecnologia soviética (abaixo, à esquerda), agora era ouvi-lo a criticar a tecnologia americana com um despropósito duplamente inaceitável - em termos técnicos (afinal, os Estados Unidos haviam ganho a corrida espacial para a Lua!) e em termos do espírito não competitivo que enformara aquela missão conjunta. Por isso, ao ver aquele splashdown da SpaceX de hoje, fui subitamente transportado para outros tempos e para outros disparates, felizmente esquecidos, como esquecido está, aliás, o nome do cientista-comentador-camarada, que devia ser tão competente em astronáutica quanto a Rita Rato o promete ser a dirigir museus... Aliás, simbólico da parcialidade de como a comunicação social portuguesa acompanhava o assunto, o Diário de Lisboa noticiava a 21 de Julho o regresso à Terra da Soyuz nos termos documentados na imagem abaixo (ao centro - com 1ª página e desenvolvimento no interior), enquanto a edição do dia 24 de Julho não dizia uma palavra que fosse sobre o regresso da Apollo... Neste caso e para bom entendedor, mais do que meia palavra, a ausência delas basta...
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