Eu bem sei que os leitores não estarão habituados a ver estes dois números comparados, mas peço-vos que me acompanhem na constatação que o número de infectados por covid-19 até hoje em Portugal (56.671) é, ainda assim e apesar dos mais de cinco meses de pandemia e confinamento entretanto decorridos, inferior aos 57.172 votos obtidos pelo Livre nas eleições de Outubro do ano passado. Trata-de de duas ínfimas minorias (0,6% da população portuguesa) e não nos cansamos de ouvir falar nelas. Confesso-vos que só muito recentemente me apercebi da extrema raridade em que consiste essa figura do infectado pela covid - há em média apenas 1 infectado para 180 portugueses; a grande maioria das pessoas não conhece pessoalmente ninguém que tivesse estado naquelas condições. Explicando esta ligação entre a covid e o Livre, e como aconteceu com a deputada Joacine, que, apesar de ser só 1 em 230, passou de um dia para o outro do anonimato para as parangonas da comunicação social, concorde-se que tem sido mais o constante alarme da comunicação social e não as experiências pessoais das pessoas comuns, a contribuírem para manter o interesse social no tema da pandemia. Ao fazê-lo, os abusos, exageros, até mesmo mentiras, têm sido mais do que muitos, e as consequências disso também muito perversas - assista-se ao desabafo a esse respeito de Luís Aguiar-Conraria em plena emissão da RTP3. Por outro lado, foi evidente constatar, precisamente com o exemplo de Joacine Katar Moreira, que estes processos de gerir aquilo de que se fala podem ser controlados: mal Joacine saiu do Livre, ela desapareceu de todo da comunicação social; hoje ninguém fala nela. Eu não sei a quem me estou a dirigir, mas estes episódios são demasiado artificiais para não serem comandados. Também não vou ao exagero de lhes pedir que se faça desaparecer a covid da agenda mediática, já que reconheço que o valor noticioso de uma pandemia não é o mesmo do de uma deputada exótica. Mas o meu apelo vai para que esses poderes ocultos actuem por forma a que os seus comandados não continuem a assustar metodicamente as audiências e para que façam um esforço para regressar à normalidade, por muito medíocre que ela seja: ele há os incêndios, o futebol, o Trump, tanta coisa irrelevante e estúpida para destacar nas notícias... em vez de crises prospectivas de faltas de seringas para a aplicação de vacinas que ainda não foram inventadas!
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