17 agosto 2020

A EDIÇÃO ORIGINAL DE «QUINTA DOS ANIMAIS» DE GEORGE ORWELL

17 de Agosto de 1945. Edição original de Animal Farm, de George Orwell, um pequeno/grande conto que exibia de forma imaginativa o contraste entre o que o comunismo invocava ser e aquilo que o comunismo era. Ao contrário dos seus homólogos continentais, os expoentes da esquerda democrática britânica nunca tiveram quaisquer complexos em chamar os bois pelos nomes ou, neste caso, os porcos por aquilo em que se haviam tornado. Até aos finais do século passado a alusão à imortal obra de Orwell era uma chateação para os camaradas do PCP por nela se explicar que tudo aquilo que eles propagandeavam era uma fraude; hoje ter-se-á tornado outra chateação, mas para a malta do PAN, por nela se estereotipar os comportamentos dos animais... 
A propósito do quanto a obra ainda pode ser tabu e incómoda nos dias que correm, aprecie-se a proeza de se conseguir escrever uma avaliação do livro que contorna o que de principal ele contém e leia-se a apresentação abaixo da editora Antígona da sua própria edição deste livro, em que as críticas se concentram nos «títulos panfletários» de edições anteriores da mesma obra («O Porco Triunfante» ou o «O Triunfo dos Porcos»), sem que na avaliação se aflore, sequer, que a conclusão fulcral do livro é uma denúncia da grande falácia do século XX que foi o comunismo.

«Esta nova tradução de Animal Farm recupera o título original, contrariamente às edições anteriores, que adoptaram os títulos panfletários O Porco Triunfante e – o mais conhecido – O Triunfo dos Porcos. À primeira vista, este livro situa-se na linhagem dos contos de Esopo, de La Fontaine e de outros que nos encantaram a infância. Tal como os seus predecessores, Orwell escreveu uma fábula, uma história personificada por animais.

Mas há nesta fábula algo de inquietante. Classicamente, atribuir aos animais os defeitos e os ridículos dos humanos, se servia para censurar a sociedade, servia igualmente para nos tranquilizar, pois ficavam colocados à distância, «no tempo em que os animais falavam», os vícios de todos nós e as suas funestas consequências. Em A Quinta dos Animais o enredo inverte-se. É a fábula merecida por uma época − a nossa época − em que são os homens e as mulheres a comportar-se como animais.»

Sem comentários:

Enviar um comentário