Antes de tudo, note-se que eu percebo a necessidade formal de que o facto seja comunicado a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A minha pergunta incide sobre o facto de a comunicação social achar que vale a pena dar ressonância ao assunto. E que ressonância!: Público, Observador, Negócios, Económico, etc. Todos eles acham muito importante chamar a atenção para o facto de que António Mexia se decidiu a aplicar 1% dos seus rendimentos anuais num investimento na empresa para onde trabalha. Rendimentos anuais que, por sinal, no ano passado sofreram uma redução. Uma redução que também foi reportada suficientemente importante para ser título de vários jornais - Salário de Mexia encolheu (2,16 milhões). Há quem considere que estas últimas notícias sobre remunerações de gestores são publicadas com o intuito de provocar o ultraje dos leitores, confrontados com o valor milionário que alcançam. Eu tenderia a concordar com eles, se eu visse o Bloco de Esquerda a incitar as pessoas a indignar-se com outras remunerações do mesmo calibre, como é o caso da que o Jorge Jesus vem receber agora no Benfica (3,0 Milhões +...). Mas não... a essas outras o Bloco não diz nada. Portanto, só me resta a impressão que esta publicação de notícias, pouco pertinentes, à volta de António Mexia são mesmo pose provocada pelo próprio para que se fale de si. Note-se que é uma atitude que é de sempre, já há registos dela na Atenas Clássica, quando Alcibíades mandou cortar o rabo ao seu cão, para suscitar a curiosidade social e para que não esmorecesse o falatório a seu respeito. Na Grécia antiga não os havia mas hoje compete aos jornais fazer a triagem do que é (ou não é) o equivalente a um mero rabo de cachorro cortado. À mesma escala e se Mexia ganhasse o ordenado mínimo nacional, acho que nem os amigos dele estariam interessados em saber que investira 90 € em acções. Então porque é que todos estes jornais acharão que isto interessará ao público em geral?...
Sem comentários:
Enviar um comentário