16 agosto 2020

O CASO DO FAX DE MACAU

16 de Agosto de 1990. O caso do fax de Macau está ao rubro. Tornara-se conhecido um ano antes, quando uma empresa alemã, a Weidleplan, pressionara o governador de Macau, Carlos Melancia, exigindo-lhe a devolução de 50 mil contos que adiantara. O escândalo, porque o pedido fora feito através de um fax, ganhara o título de Caso do fax de Macau. Todo o processo começara ainda no mês de Março de 1988, quando o socialista Rui Mateus recebera uma proposta de negócio por parte do representante da empresa alemã em Portugal. A empresa Emaudio estaria a ganhar influência naqueles tempos e Mateus era uma figura incontornável daquele novo agente de comunicação e lobbying, após o sucesso de Mário Soares nas eleições presidenciais de 1986. Carlos Melancia também era um das pessoas associadas à Emaudio, acessoriamente também governador de Macau desde Julho de 1987, e a empresa de consultadoria alemã pretendia ficar como consultora do novo aeroporto internacional a construir no território português no Oriente. Rui Mateus terá conseguiu juntar as partes interessadas em Lisboa, para conversarem sobre o negócio. Em 1989, a empresa concorrera para conseguir a construção do aeroporto de Macau. Confiantes, transferiram dinheiro para o representante português da empresa alemã, que, em nome da Weidleplan, o entregou à Emaudio, 50 mil contos na época, 653 mil euros aos valores actuais, corrupção de alto calibre. A 12 de maio de 1989, a empresa é desclassificada do concurso público para a construção do aeroporto. Indignados, os alemães enviam o famoso fax a pressionar o governador, que os ignora. Através das investigações da Polícia Judiciária, percebeu-se que realmente houve um pagamento por parte da Weidleplan à Emaudio, só que daí para diante tudo se torna obscuro: para além de não se saber quem foi o autor do fax, apesar de ter sido confirmado que proviera da empresa alemã, não se chega a perceber o contexto em que o dinheiro é exigido especificamente ao governador Melancia. Entregaram-lho ou os da Emaudio disseram que o tinham entregue?... Porém, politicamente, as revelações eram demasiado pesadas e causaram a demissão de Carlos Melancia em Abril de 1991, antes que os efeitos do escândalo se propagasse à presidência da República. O conjunto de julgamentos suscitados pelo caso acabou por produzir um desfecho algo complexo em que saiu absolvido o próprio Carlos Melancia, mas condenados quatro intervenientes portugueses associados à Emaudio e dois intervenientes alemães associados à Weidleplan. Ironicamente, e se consultarmos as páginas da wikipedia a eles respeitantes, a de Rui Mateus, o hoje confesso detonador do escândalo, é bem mais desenvolvida do que a de Carlos Melancia, a sua figura mais proeminente.

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