10 agosto 2020

O PORTUGAL OPTIMISTA DE ANTÓNIO COSTA

Na minha opinião, deve-se guardar esta notícia do Público para, um dia mais tarde, se exemplificar com ela aos vindouros, o que foi o Portugal irritantemente optimista sob António Costa. É verdade que, num esforço de spin de comunicação assaz interessante, o próprio António Costa se apropriou da expressão (alegadamente usada por Marcelo), para a assumir enfaticamente, embora tendo o cuidado de a guardar apenas quando quando se fala de previsões para o futuro - quando o abaixamento das expectativas se torna impopular. Mas o Portugal optimista de António Costa exprime-se de muitas outras formas para além daquela que Costa usa para sua própria conveniência, e uma delas é precisamente a forma como se notícia um incêndio no Gerês, através de uma cuidada redacção dos jornalistas da Lusa (acima). Engane-se quem considerar a análise clássica e simplista que um incêndio ou está activo (a expressão jornalística consagrada é «...está a lavrar...») ou foi extinto (e aí pode estar «...em fase de rescaldo...»). Como se pode ler pelo título a situação pode não ser boa - (o fogo) «continua activo» - mas o título pode sê-lo - (o) «combate corre de forma favorável». Ora eu suponho que é obrigação dos bombeiros fazer com que os combates aos incêndios corram de forma favorável. E vale a pena analisar aquele título pelo seu contraditório: o que poderia estar a acontecer se o combate corresse de forma desfavorável? Estar-se-ia, nesse caso, a proceder à evacuação de todas as populações ameaçadas? E, se o combate está a correr de forma favorável, não seria questão de adiantar uma previsão de quando poderá ser extinto? Mesmo que dali saísse uma previsão irritantemente optimista? Mas não, que me parece que o optimismo aqui é de outro género, e a preocupação maior parece ser a de concentrar boas notícias no título... e também no subtítulo, onde a primeira informação que se lê é que a «maior parte do incêndio» é «em território espanhol», ou seja, não é connosco, é lá com os espanhóis. De concreto, o que aconteceu não passa de mais um incêndio florestal, como há muitos, todos os anos, no Verão; o que considero inovador serão algumas técnicas, nomeadamente o cuidado redobrado na redacção dos títulos, para adoçar a forma como são noticiados.

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