Passou praticamente desapercebido o falecimento em Maio passado de Patrícia M. Derian (1929-2016), uma activista dos direitos humanos norte-americana que se veio a celebrizar após ter sido escolhida em 1977 pelo recém-empossado presidente Jimmy Carter (1924- )para sobraçar a Subsecretaria de Estado para os Direitos Humanos e os Assuntos Humanitários. Os obituários são obrigatoriamente simpáticos para o falecido, mas a outra verdade manda constatar que os quase quatro anos de Patrícia Derian naquele posto, dependente da Secretaria de Estado norte americana, o organismo responsável pela política externa do país, se saldaram por um grande fracasso da política externa daquela superpotência, o que é tanto mais notável considerado o posto relativamente secundário da titular no organigrama da Administração. Para o explicar, tudo começará pela escolha da protagonista. Embora nova-iorquina de nascimento, Pat Murphy Derian crescera na Virgínia e mudara-se depois ainda mais para Sul, tornara-se numa democrata sulista como o presidente Carter, que se distinguira na década de sessenta na luta pelos direitos humanos no seu estado de residência, o Mississippi.
Quando a nomearam para a Subsecretaria de Estado (na foto acima, Pat Derian ao lado de Jimmy Carter) e se anunciou a importância que a nova administração iria passar a dar ao respeito pelos Direitos Humanos (e isso também nos países tradicionalmente aliados dos Estados Unidos), ter-se-ão esquecido de explicar a Pat Derian que ela não se podia conduzir em países estrangeiros da mesma forma como o fazia com as autoridades segregacionistas do Mississippi. Abaixo, exibe-se uma fotografia de uma reunião com o presidente argentino Jorge Videla (1925-2013) em 1977 (que se desconfia ter corrido muito mal...), um desfecho que se tornava mais do que frequente quando das visitas da subsecretária ao estrangeiro. Em 1978, uma outra reunião, dessa vez realizada em Manila nas Filipinas, terminava com o presidente local Ferdinand Marcos (1917-1989) e a subsecretária de Estado para os Direitos Humanos aos gritos um com o outro. Marcos não se dispunha a ser refém daquilo que designava como a democracia do dólar muito menos a ser descomposto por uma funcionária menor, por muito poderosa que fosse a administração norte-americana. Nestes casos, competia depois aos profissionais dessa mesma administração, caso do colega Richard Holbrooke (1941-2010), o subsecretário de Estado para a região (Ásia Oriental e Pacífico), ir compor os estragos... Mesmo assim, não evitavam os dixotes, e que Pat Derian viesse a receber a alcunha nos países da zona de Pat Durian, o nome de uma fruta daquela região insuportavelmente malcheirosa. E, como em política externa, os princípios, por muito nobres que sejam, raramente chegam ao fim, a última palavra estava reservada aos ditadores, quando estes (Marcos, mas também Suharto da Indonésia...) não se esqueceram de fazer lembrar - por interpostos funcionários diplomáticos - a Pat Derian os pergaminhos sobre Direitos Humanos dos Khmers vermelhos, quando os Estados Unidos os vieram a apoiar depois da invasão do Camboja pelo Vietname em 1978...
A história de Pat Derian faz-me lembrar os riscos que se correriam se por cá se desse uma pasta governamental a Ana Gomes... É sempre um fenómeno interessante quanto um funcionário subalterno de uma administração transborda entusiasticamente das suas competências por se querer mostrar ainda mais competente. Klaus Regling é um alemão que dirige o Mecanismo de Estabilidade Europeu. E que, como Pat Derian, me parece que acha muitas coisas. Se calhar, acha coisas demais e acima das suas capacidades e competências de achar. Aqui há pouco mais de uma semana achou que a passagem de Varoufakis pela pasta das Finanças gregas custou ao país 100 mil milhões de euros. Os gregos não acharam lá muita piada. Agora, aparentemente, o único país que o preocupa é Portugal. Também por cá não se achou muita piada. Não havendo grande diferença entre os desbocamentos públicos deste Regling e os privados de Derian, o que eu não descortino na administração da União Europeia é o papel equivalente ao de Richard Holbrooke, o diplomata profissional que venha atrás dos descompensados, compondo a situação...
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