Todos nós por cá teremos as nossas razões para detestar José Manuel Durão Barroso. Mas, se for um escroque, é um dos nossos escroques. No meu Portugal ideal, a sua chegada a um local público devia ser saudada pela colectividade presente com as expressões saturadas que se fazem quando alguém se peidou. Mas as aldrabices que nos pregou em 2002 e o expediente subsequente de se desenfiar à primeira oportunidade, conjuntamente com a prorrogativa de o insultar por ter aceite um tacho dado pela Goldman Sachs, são queixas e privilégios nossos que não queremos tornar compartilháveis pelos nossos parceiros europeus. É como a soberania sobre as 200 milhas marítimas. Pode ter havido já imensas transferências de soberania mas os tratados nada contemplam quanto às transferências de ódios de estimação. São intransmissíveis, como as selecções de futebol. É por isso que se tornam inaceitáveis as declarações de François Hollande ao qualificar de moralement inacceptable o novo cargo de Durão Barroso. Ao contrário de outros países, que o afirmam sobriamente, ou nem isso, a França e em França têm-se desmultiplicado em declarações nesse sentido. Até podem ter razão mas não compete ao presidente francês (e à máquina mediática francesa) comentar exuberantemente o assunto como o tem feito - a ponto de levantar suspeitas às razões que os motivam. Por causa das contradições do passado. Era a eles (e não a nós) que teria competido comentar a moralidade da escolha para director do FMI de Dominique Strauss-Kahn, o garanhão que foi apanhado literalmente de cuecas pelos tornozelos em Maio de 2011 e que teve de se demitir depois disso. Eram segredo os instintos sexuais do visado? Ou tentar assaltar a primeira fêmea que lhe passa à frente é moralement acceptable? E não é que é uma coincidência do caraças que a sua sucessora fosse também precisamente francesa?
Adenda: Em contrapartida, e para que se perceba mais claramente que as minhas críticas a Hollande e aos franceses não têm a intenção de exonerar Durão Barroso das críticas que lhe endereçaram, dou aqui publicidade a um abaixo assinado promovido pelos funcionários das instituições europeias, pedindo a suspensão da sua pensão e dos títulos honorários que possa auferir como antigo presidente da comissão.
Porque é que não pode aceitar o cargo? Há notícia de algum político Português que tenha alguma vez recusado um cargo similar? Pelo tipo de governantes que vamos tendo e em particular pelos que tempos actualmente deviam ser poucos os políticos a recusar.
ResponderEliminarPior, quantos Portgueses recusariam?
Pior, quanto Portugueses recusariam?
«Porque é que não pode aceitar o cargo?»
ResponderEliminarPor variadas razões que foram apresentadas na comunicação social, tanto em Portugal como noutros países.
«Há notícia de algum político Português que tenha alguma vez recusado um cargo similar?»
Não há notícias porque o convite formal para estes cargos é precedido de uma sondagem informal sobre a disposição do convidado em aceitar o convite.
«Pior, quantos Portugueses recusariam?»
Eu, pela minha parte, recusaria, mas a minha resposta é tão demagógica e desnecessária quanto a sua pergunta: não é a mim, nem aos portugueses em geral, que na Goldman Sachs estão interessados em convidar, pois não?
A. Teixeira,
ResponderEliminarQual a validade dessas razões?
Quando alguém não aceita um cargo desses, em geral, sabe-se! Portanto, a minha questão mantém-se necessária.
Como não é hábito vermos alguém recusar, a última questão também é necessária. Melhor, é desnecessária, porque sabemos a resposta (o caro A. Teixeira será uma das excepções que confirmam a regra).
Para terminar, eu que sou má-língua, julgo que certos franceses (socialistas) estão muito preocupados com o cargo porque estariam a contar com esse cargo para um dos seus amigos. Talvez mesmo para o Hollande.
ResponderEliminarEstá a confundir a aceitação da validade das razões apresentadas para censurar Durão Barroso com a existência delas. É que as razões existem, se não gosta delas e se recusa sequer a considera-las para as refutar, então não há nada para discutir consigo.
ResponderEliminar"Quando alguém não aceita um cargo desses, em geral, sabe-se!"
Está completamente errado. E nessa sua assertividade fica evidente a sua ignorância de como costumam funcionar os procedimentos para preenchimentos de cargos politicamente sensíveis.
Finalmente, desculpe lá, asam, mas, muito pior e muito para além de má língua de que se censura, parece-me que anda completamente a Leste de compreender os meandros dos corredores do poder e também do que é o prestígio da função presidencial em França. A França detém hoje o posto cimeiro do FMI com Christine Lagarde. E antes dela estava lá Dominique Strauss-Kahn, também francês.
E se, como insinua, está a imaginar um antigo presidente francês como Jacques Chirac ou Nicolas Sarkozy a aceitar um cargo na Goldman Sachs (a não ser que proponha que Hollande renuncie à presidência de França para ser CEO da Goldman Sachs...), lamento dizer-lhe que dá opiniões demais para aquilo que mostra perceber do tópico.
Eu bem sei que a Internet é o espaço livre de todas as opiniões, asneiras incluídas, mas, que diabo?!