Completam-se hoje precisamente cem anos que se iniciou a Batalha do Somme. Estrategicamente foi uma batalha para esquecer, sem quaisquer consequências. Tacticamente, foi uma batalha que só serviu para que se aprendesse com os erros (muitos). Mas moral e politicamente, é uma batalha cuja evocação perdura até hoje. 1 de Julho de 1916 veio a revelar-se o dia mais sangrento da história do exército britânico. E é por isso que, já tendo falado de vários aspectos dessa batalha aqui no blogue, é pertinente desenvolver hoje qual foi o custo humano desse episódio da Primeira Guerra Mundial para os agora dissidentes britânicos.
Os primeiros cálculos feitos depois da acção, feitos a partir das chamadas logo que os batalhões abandonavam a frente, conduziram a um arrepiador apuramento de quase 62.000 baixas em combate (quadro superior da gravura acima), onde se contavam 8.000 mortos. Isso não invalidava que as informações que seguiam para a retaguarda classificassem ainda de ligeiras (slight) as baixas sofridas, como se pôde vir a ler nos jornais britânicos da época. Mesmo assim, entre os comandos militares esperava-se e desejava-se que nos dias seguintes o número de baixas viesse a baixar substancialmente visto que a rúbrica dos desaparecidos, constituída por quase 18.000 soldados, representava ainda 30% do total. Durante a ofensiva, muitos soldados podiam ter-se perdido das suas unidades de origem. Isso veio a revelar-se verdadeiro mas apenas para cerca de ¼ deles (4.300). Os alemães deram conta de terem capturado uns 600 homens. Mas 11.000 tinham sido comprovadamente mortos e os 2.000 desaparecidos restantes haviam-no sido provavelmente também, o que ficava a faltar era encontrar-lhes os corpos. Por uma macabra coincidência, o computo final das baixas (57.500) correspondia quase precisamente a ½ dos efectivos dos 143 batalhões que haviam participado no ataque.
Justificando uma tradição inculcada entre as elites britânicas, a proporção de baixas entre os oficiais era superior ao contingente: no fim do dia e esclarecidas as ausências, apenas ⅓ continuava capaz de comandar as suas tropas. O código que os impelia a fardarem-se e comportarem-se de forma distinta dos seus homens também os transformava em alvos mais apetecíveis das metralhadoras alemãs. Da compilação do levantamento detalhado das baixas sofridas a 1 de Julho de 1916 que foi feito por 78 dos 143 batalhões intervenientes conclui-se que, proporcionalmente, o posto mais perigoso foi o de capitão. O número de baixas sofridas pelos britânicos nesse dia equivaleria à capacidade de combate de 72 batalhões de infantaria, 6 divisões completas (o Corpo Expedicionário Português em França teve duas). Mas os leigos talvez prefiram a comparação de que, para os quase 26 km da frente de onde foi desencadeado o ataque de 1 de Julho de 1916, houve uma média de 2,2 baixas por cada metro de frente, 4 mortos por cada 5 metros de trincheira.
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