Depois do horror da tragédia de Nice há algo que me incomoda nesta insistência (muito mais do que razoável) para que o perfil do assassino (Mohamed Bouhlel, acima à esquerda) se conforme à descrição de radical islâmico que todos(?) parecem esperar dele. Há os factos, um muçulmano não praticante, os indícios de alguém mentalmente perturbado e há sobretudo a comparação com outras grandes carnificinas provocadas por outros desequilibrados mentais (acima à direita, Andreas Lubitz, o co-piloto alemão que se despenhou causando 150 mortes) onde, quiçá por causa da nacionalidade desses outros causadores de grandes tragédias, não chegou a haver espaço para grandes especulações sobre terrorismo. Não fosse a seriedade da questão e apeteceria ironizar com tudo isto, perguntando se ainda é possível aos magrebinos residentes em França padecerem de doenças mentais e terem comportamentos associais? Porque o comportamento colectivo desta opinião publicada em resposta ao que parece ter sido um fenómeno desses, em vez da procura da verdade, parece-me ser a indução na opinião pública de uma atitude (ainda mais) preconceituosa em relação a todos os magrebinos. As consequências disso podemo-las apreciar quase quotidianamente nos Estados Unidos quando nos apercebemos que, formados nesse cadinho, terá de haver alguma razão particular para que os polícias locais matem acidentalmente muito mais negros que brancos...
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