07 julho 2016

O «CÂNTICO NEGRO» DE JOSÉ RÉGIO TEM QUE SER TRANSPOSTO PARA AS NORMAS COMUNITÁRIAS

Neste remate ao seu famoso Cântico Negro de 1925, o poeta José Régio não sabia por onde ia, não sabia para onde ia, só sabia que não ia por aí! Mais de 90 anos depois, assiste-se ao brexit e aos comentários que se lhe sucedem, e apercebo-me quanto José Régio é um poeta profundamente antieuropeu, quanto tudo aquilo que ele escreveu naquele seu famoso poema não passariam de liberdades poéticas, quicá inconsequentes, quiçá mesmo perigosas para a Europa actual. Na vida real, um Boris Johnson, um Nigel Farage não podiam ter usurpado a liberdade de, sabendo por onde iam, não saber para onde iam. Fiquei esmagado pela constatação dominante entre quem tem a pretensão de pensar pelos outros, que não pode haver projectos políticos que se cinjam à insegurança simples de apenas se saber que não se vai por aí. Assim como aconteceu com os 52% de britânicos velhos ignorantes e pobres que não se podiam ter deixado embalar por aquele lirismo despropositado de só querer saber que não se vai por aí - e que agora estão arrependidos. O Cântico Negro tem que ser transposto para as normas comunitárias: tem de passar a ser conhecido por Cântico Azul (Europa) e revisto, passando a terminar assim:
(...)
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que vou para onde de Bruxelas me mandarem ir!
(e que a repetição de referendos não seja problema...)

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