Uma forma de se constatar o lado perverso do Correio da Manhã é observando a perseguição que o jornal dedica a Amélia de Jesus, uma antiga mulher a dias que há três anos ganhou 40 milhões de euros (líquidos de impostos!) no Euromilhões. Onde é que já vão os cuidados que os órgãos da comunicação social daquela altura puseram na preservação da identidade da felizarda, quando de uma sua peregrinação a Fátima em agradecimento... Meses decorridos, Amélia de Jesus, provavelmente também por uma vontade deslumbrada de si própria, tornou-se uma presença rotineira nas páginas do celebrado matutino - seja por ter destruído (e substituído) um Maserati num acidente de viação, seja por se submeter a tratamentos caríssimos que a fizeram perder dúzias de quilos. Continuamente disposta a exibir-se para aquele jornal e prova do sucesso dos tratamentos, aqui acima a vemos feliz, loura, a parecer uma cópia contrafeita daquelas tias de Cascais com peles de ameixa seca, numa exibição de sofisticação - ele é uma tisana, um guardanapo de pano, um copo de vinho de pé alto - apenas maculada pela escolha do vinho, um reles Mateus Rosé. Se é verdade que o dinheiro compra tudo, é também verdade que o dono da carteira tem que aprender primeiro aquilo que é importante comprar... Mas parece-me que existe neste encadeado de artigos uma certa intenção do Correio da Manhã em explorar um certo despeito colectivo em relação a alguém a quem o dinheiro deu a felicidade que o dinheiro pode propiciar.
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