A RTP 3 apresenta todos os dias, num sistema que creio que seja de rolamento, um pequeno programa destinado à promoção de livros, cada programa uma obra selecionada. A de hoje era dedicada a Calvin & Hobbes de Bill Watterson. Em seis minutos falou-se resumidamente de Calvin, o miúdo travesso de seis anos que é o protagonista das histórias e do seu boneco inseparável, que é também o seu amigo imaginário, o tigre Hobbes. Houve tanto sentimento que seis minutos não chegaram para referir que o nome das personagens principais se ia inspirar em João Calvino (Calvin em inglês), um chatérrimo teólogo francês do Século XVI e em Thomas Hobbes, um filósofo inglês do Século seguinte, se possível ainda mais aborrecido que o anterior. A formação académica de Bill Watterson, o autor, em ciência política (apesar dele se ter tornado profissionalmente num cartunista) não será estranha à sofisticação daquelas escolhas. Que, apesar de constarem da Wikipedia, passaram ao lado dos profissionais encarregues da produção do programa - um trabalho de pesquisa medíocre de preguiçoso porque, mesmo na eventualidade de se pensar que o espectador médio não saberia quem fora Calvino e Hobbes seria precisamente função de quem produz o programa explicar quem haviam sido. É o lado pedagógico da televisão, é o que justificará a postura intelectual. Mas não. É tão triste que até se torna fraca consolação descobrir que no Brasil ainda pode ser pior: o tradutor, na ousadia da sua ignorância, decidiu-se a mudar o nome do tigre...
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