16 julho 2016

DE UMA CENA EVOCATIVA DO FILME «MASH» ATÉ AO INTRIGANTE DINAMISMO DA NOSSA IMPRENSA ECONÓMICA

Até por outro dia aqui me ter referido aqui ao filme MASH creio que vale a pena evocar uma cena do filme, que envolve Frank Burns (interpretado por Robert Duvall), um cirurgião devoto e também não muito bem formado, que não se integra, nem se dispõe a integrar, no espírito descontraído e trapalhão dos restantes colegas do hospital de campanha MASH 4077 que dá o título ao filme. O outro interveniente nessa cena é uma ordenança de seu nome Boone (abaixo), um soldado para ali destacado, sem quaisquer qualificações médicas mas ingénuo e disponível. Surge uma complicação pós operatória a um paciente do cirurgião Burns que parece entrar em choque e este pede a Boone que lhe vá buscar rapidamente adrenalina e uma agulha cardíaca. Quando este regressa momentos depois, já o paciente se fora, mas Burns tem o mau gosto de culpar o prestável e ingénuo Boone por este se ter aparentemente enganado nos itens: Idiota! Eu disse uma agulha cardíaca. É demasiado tarde. Acabaste de o matar. O crédulo Boone ficou completamente arrasado.
Como o filme pretende ter uma moral, a cena foi presenciada por um outro cirurgião, Trapper John (Elliot Gould), que mais tarde, aproveitando uma situação discreta e mesmo à traição, arreia um enxerto de porrada no major Frank Burns. Pois bem: eu não sei se no quadro do Diário Económico subsistirão ainda jornalistas com a ingenuidade do soldado Boone. É muito provável que não. Mas mesmo sem ser em nome (ou a pretexto) desses ingénuos, a administradora judicial daquele jornal, Paula Mattamouros Resende, parece-me uma excelente candidata a levar um atesto semelhante ao de Frank Burns (metaforicamente falando, claro). A explicação que se pode ler na notícia do Observador abaixo, tem uma falta de consistência tão absurda quanta a da história da agulha cardíaca assassina. Os jornalistas reclamavam pelo pagamento de salários em atraso, incluindo até o subsídio de Natal de 2015, fizeram uma greve de 24 horas e isso, diz a senhora, contribuiu para a falência do Diário Económico? Porque não acusar também a mulher da limpeza por ter deixado a torneira a pingar e ter assim aumentado desnecessariamente a factura da água?
Eu gosto particularmente de expressões como a que foi retirada do artigo do Observador e atribuída à referida administradora: Apesar dos números razoáveis que está a gerar, estes não são suficientes para tornar viável a manutenção da empresa. Diz-me a observação e também a forma como está redigido o texto supra que, quando há tal dedicação aos números e tão pouca às pessoas tudo tende a descambar no síndrome do cavalo do escocês, o tal que acaba acidentalmente por morrer depois de o administrador da insolvência se ter convencido que ele já se havia habituado a deixar de comer... Também no Diário Económico os números até podem ser razoáveis mas se se esquecerem de pagar com regularidade às pessoas pode ser que deixem de contar com elas... Contudo, no meio de tanta miséria, não deixa de surpreender o dinamismo da imprensa económica, qual espécie de fénix do bem prega frei Tomás (faz o que ele diz, não faças o que ele faz), conforme se constata por este anúncio de hoje no Expresso (abaixo). Promete-se o pluralismo do costume (sem "accionista dominante") e nós ficamos para ver, como nas representações do circo, para o fim, para quando chegar aos bilhetes do par charro do alto...  

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