Começando pelo que é mais importante, esteve muito bem Cavaco Silva ao ter condecorado Simone de Oliveira com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique a pretexto dos seus 58 anos de carreira artística. Mas não foi por aí que o presidente se descartou de uma sólida reputação de favoritismo muito pouco institucional para com alguns intérpretes do nosso panorama musical em contraste com outros que mostraram publicamente não o apreciar pessoalmente. De todo o modo, a ser lesivo para a reputação de alguém, sê-lo-á mais para quem recebeu a condecoração do que para quem a impõe. E há que reconhecer que a condecoração é mais do que merecida. Vinda ainda dos concursos de popularidade do nacional cançonetismo já no estertor do Estado Novo, Simone de Oliveira atravessou depois estes últimos 40 anos de regime democrático bolinando...
...suave e discretamente (como muitos outros artistas), da esquerda para a direita, desde um comunismo chique (e discreto), mesmo ao jeito do meu (dela) querido amigo José Carlos Ary dos Santos, passando pelos socialistas na década de oitenta, até aterrar no goto de um critério consolidadamente popular como se percebe ser o gosto do professor Cavaco Silva. Mas, tão importante quanto a carreira e o percurso, há também o estilo: num país que nunca teve escala para se permitir uma soprano temperamental ao jeito de Maria Callas (ou Bianca Castafiore...), Simone de Oliveira seria o que mais se aproximava disso. Abaixo, por ocasião do Festival da Canção da RTP de 1968, ela conseguia a proeza, apesar de vencida, de roubar a primeira página do jornal ao vencedor do concurso (no caso Carlos Mendes), apenas por ter tido um chilique e desmaiado...
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