25 outubro 2015

MEMÓRIA

Duas notícias no mesmo espaço do mesmo jornal separadas por menos de um mês. Pelo meio houve as eleições legislativas e o contraste entre as duas notícias é tão evidente que creio bastará ler os cabeçalhos e os sublinhados. Mas, mais do que a incompetência dos jornalistas e a subsequente aposta na falta de memória dos leitores, o que mais insultará estes últimos será a falta de consideração por eles, que nem lhes mereceu até ver, aos jornalistas, um pedido de desculpas a quem os lê. Porque a missão do bom jornalismo tem de ser muito mais do que denunciar à posteriori as manipulações de dados de execução orçamental pelos partidos no poder. Há que escrutiná-las, às noticias (e às manipulações...) antes de as publicar, para esclarecer o leitor, o que não foi feito, para mais quando a notícia está redigida num estilo que, adequado ao momento, mais parece uma caixa de ressonância amplificadora da propaganda governamental (a devolução ainda pode vir a ser maior do que a prometida pelo governo!).
O Expresso (e a sua página de Economia) carrega consigo o fardo do hoax de Artur Baptista da Silva de há três anos, em que foi notória a coragem de Nicolau Santos em responsabilizar-se pelo embuste. Há, ao contrário do que possam pensar os jornalistas que assinaram as notícias acima, entre os leitores do Expresso quem tenha boa memória. E quem fique à espera do que se possa esclarecer ainda mais – no Expresso mas também nos outros órgãos de informação – acerca deste assunto esquisito. Esquisito também pela rapidez como foi denunciado. E não me estou a referir às costumeiras indignações exuberantes de José Gomes Ferreira na SIC, que só veio constatar o óbvio (que ele e os seus colegas, jornalistas económicos, só descobriram depois dos votos terem sido contados...), mas ao secretário de Estado Paulo Núncio que foi a face mediática do que parece não ter passado de uma boa moscambilha política, daquelas que pode ser plausivelmente negada. Aqui o secretário de Estado até é mesmo secretário de Estado, mas convém que se saiba quem são os espertalhões da política portuguesa.

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