Quando em finais de 2013 o actor Jean Claude Van Damme fez um anúncio promovendo os camiões da Volvo, o vídeo ter-se-á tornado aquilo que se costuma qualificar por viral, um sucesso mundial, copiado e retransmitido milhões de vezes. Mas sempre fiquei com a impressão que, para além do mundo, para os portugueses, aquele afastamento entre camiões poderia também ter um significado simbólico adicional, correspondendo ao que parecia estar a acontecer - com gravidade - à sua situação política. A tentativa de Cavaco Silva em Julho de 2013, na sequência do abandono de Vítor Gaspar e da decisão irrevogável de Paulo Portas, em procurar associar e corresponsabilizar António José Seguro e o PS saldara-se por um fracasso saldado com desdém pelos dois blocos. Os fundamentos que durante décadas pareceram consensuais entre as principais formações políticas estavam a deixar de o ser, de que as sucessivas rejeições de legislação por inconstitucionalidades várias eram apenas a expressão mais óbvia. Não se pode dizer que, para as últimas eleições legislativas não se tenha tentado, dos dois lados, preencher, conquistando-o, esse hiato central. Não me parece que nenhum dos blocos o tenha conseguido. Nem me parece que ninguém de prestígio fora deles consiga por agora ter um dos seus pés assente simultaneamente em cada um. O que é pena, porque na ordem constitucional está previsto que haja alguém que tenha sido eleito precisamente para isso.
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