Porque a palavra chapelada invocada no poste anterior, no seu sentido político de processo pouco ortodoxo de obter votos adicionais num determinado partido para depositar na urna, perdeu reconhecimento público desde a época em que foi inventada, há mais de cem anos, em plena monarquia constitucional, aproveito para inserir pedagogicamente duas instrutivas caricaturas desses tempos da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, para reavivar a noção do que se tratava. A chapelada que é ali retratada (e logo em cartola e chapéu de coco) teve lugar nas eleições de Novembro de 1900 no então círculo de Lisboa Ocidental. Já nem interessa a quem beneficiou. Aproveito para esclarecer que o facto de termos deixado de ouvir falar em chapeladas não é necessariamente sinónimo de elas se terem deixado de praticar. Volta e meia chegam-nos indicações que elas continuaram a acontecer, imensas sobre o Estado Novo mas evoluíram muito em sofisticação após o 25 de Abril e isso tornou-se um sinal de sucesso, porque uma chapelada bem sucedida é aquela de que não se ouve falar. Também ajuda à inocência que a opinião publicada não se disponha a dar destaque a esses indícios de fraude eleitoral, como o caso insólito ocorrido ainda a 4 de Outubro último, quando duas eleitoras foram impedidas de votar porque os seus nomes já haviam sido descarregados nos cadernos como tendo votado: a RTP deu a notícia, mas a concorrência, que costuma ser tão solidária ao cheiro de um escândalo, deixou-a sozinha desta vez.
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