Afinal não se confirmou a eleição pelo Nós Cidadãos de um deputado por um dos círculos da emigração que, se acontecesse, se deveria a uma portentosa mobilização de novos eleitores em Macau. Ainda houve quem noticiasse a eleição de José Pereira Coutinho (acima) mas o anúncio revelou-se prematuro. O apuramento dos resultados daquela nova formação na China (2.532 votos – 81,4%) ainda permitiu acalentar esperanças que se vieram a desfazer com o apuramento final dos resultados do consulado de São Paulo no Brasil, onde o Portugal à Frente recolheu 2.942 votos e 61,6%, votos que permitiram à coligação a eleição, como é tradicional, dos dois deputados com um coeficiente eleitoral ridículo (mas normal) de 3.561 votos¹ por deputado. Tudo está bem quando acaba bem mas o episódio teve a virtude de nos recordar o ambiente sórdido de arregimentação de votos que se sabe existir naqueles dois círculos eleitorais. Já em 1999, com o incontornável José Lello a ocupar a pasta das Comunidades portuguesas (que distribuía o dinheiro para as associações de emigrantes espalhadas pelo Mundo),...
...ele conseguira a proeza de reverter a tradicional distribuição de deputados da emigração de 3 PSD e 1 PS para 3 PS e 1 PSD. Essa mesma pasta é agora ocupada por José Cesário, tornado um baronete da emigração ao bom estilo do velho PPD e a distribuição dos eleitos voltou ao que era tradicional, apesar desta ameaça do Nós Cidadãos. A virtude da iniciativa do expedito José Pereira Coutinho foi a de revelar a fragilidade da estrutura e a facilidade como se pode montar uma chapelada alternativa às existentes, empregando os chineses de Macau. Mas, não nos iludamos, foi só por ela ser alternativa que se tornou objecto de tanta notícia nos jornais. Tivesse este novo tipo de chapelada vingado e eu tenho a certeza que PSD e PS se teriam posto de acordo para aprovar uma legislação que moralizasse o voto da emigração. Assim com este desfecho, já não tenho tantas certezas, há aquela tendência natural para varrer o problema para debaixo do tapete. Uma coisa é certa quanto às chapeladas: ao contrário da letra da canção infantil, o chapéu aqui não tem três bicos, só tem dois – PSD e PS.
¹ Para comparação, o coeficiente eleitoral (número de votos mínimo necessário para eleger um deputado) no círculo de Lisboa nestas eleições foi de 20.845 votos.
Paradoxalmente, esta chapelada poderia ter sido um acontecimento saudável e revitalizante da nossa democracia. Se o putativo deputado tivesse um bom desempenho e conseguisse chamar sobre si a atenção dos média, muito provavelmente faria com que em próximas eleições o partido obtivesse outro reconhecimento e apoio por parte de todo o eleitorado nacional. Poderia ter significado o embrião de uma nova força política descomprometida com os inúmeros vícios instalados. Foi pena… ainda não foi desta.
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