A exuberância de muitas reacções que tenho visto ultimamente nas redes socias diante da possibilidade da formação de um governo de esquerda, apoiado pela extrema-esquerda, levou-me a rever com uma perspectiva muito mais benévola o famoso livro de Francis Fukuyama, O Fim da História e o Último Homem, aparecido em 1992. Bem sei que o âmbito daquele livro é bastante mais vasto do que a circunscrição ao caso particular do nosso país, mas descubro que a tese que tornou o livro mais célebre, a da universalização da democracia liberal, havia sido sub ou conscientemente aceite, por toda a geração que chegou à idade adulta depois da queda do Muro de Berlim e que hoje tem 40 anos ou menos. Ou antes, mesmo aceitando que as democracias liberais são sofisticadas demais para países exóticos – e daí o fracasso global do livro e do autor enquanto profeta – esta geração parece-me ter incorporado que nos países civilizados havia deixado de haver uma verdadeira confrontação ideológica na disputa pelo poder. Era só uma questão de personalidades. Afinal pode não o ser, e só a perspectiva de o não ser tem-me feito ouvir dos melhores e mais rebuscados raciocínios e impropérios anti-democráticos que me recordo. Diferem aliás em muito pouco daqueles que ouvi na juventude deles àqueles que hoje têm 60 anos ou mais, quando então militavam na extrema-esquerda. O Fim da História e o Último Homem é um livro muito mais sagaz do que eu pensava...
Muito menos importante mas não menos injusto é recordar Nicolau Santos (a vítima) e Artur Baptista da Silva (o artista) e a meteórica carreira nos jornais e na televisão deste último como consultor da ONU (acima); foi uma proeza liliputiana quando comparada com o falso consultor de segurança da Fox News que se conseguiu manter por 13 anos ao seu serviço e que agora se descobre ter forjado a carreira ao serviço da CIA que dizia ter tido. Em elogio da atitude que Nicolau Santos então assumiu, diga-se que ainda não vi ninguém verdadeiramente responsável da Fox News a dar a cara – e muito menos o lacinho debaixo dela... – para se responsabilizar pelo fiasco colossal. Porque se está na América, onde há que fazer qualquer coisa para satisfazer a opinião pública e porque é um crime de colarinho branco e ainda porque o artista também o é (branco), prenderam-no; se fosse preto e o assunto não envolvesse televisão, se calhar davam-lhe um tiro...
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