11 outubro 2015

A BATALHA DO MARNE

Deixemo-los entender a distinção entre estratégia e táctica, que depois iremos para uma discussão a sério sobre o Plano Schlieffen... (John Keegan, O Rosto da Batalha 1976) Poucos períodos da História Militar terão sido discutidos com tanto detalhe quanto as primeiras semanas da Primeira Guerra Mundial, o plano francês (XVII) para atacar directamente a Alemanha (que falhou redondamente) e o plano alemão (Schlieffen) para atacar indirectamente (via Bélgica) a França que, começando por vingar, acabou também por fracassar com o contra-ataque francês que ficou conhecido pela (primeira) Batalha do Marne.
O que não faltam sobre aquela decisiva batalha são mapas, diagramas, esquemas (acima e abaixo), que, pretendendo sintetizar o que se passara numa leitura estratégica da situação, nunca chegaram para me fazer perceber porque é o que os franceses (e os britânicos) haviam vencido ali e naquele momento, depois de semanas encadeadas a serem consecutivamente derrotados em outras batalhas tacticamente muito semelhantes.La Bataille de la Marne de Pierre Miquel teve o condão de, não pretendendo ser um livro aprofundado (376 páginas) me deixar satisfeito quanto a explicações.
Afinal, parece não ter havido uma grande explicação épica, essa hipotética montagem de uma manobra estratégica visionária feita por Joffre, como consta da versão oficialfrancesa. O que se percebe da leitura do livro, expresso mas também subentendido, é que entre os franceses houve um processo de aprendizagem penoso, sempre sob o fogo inimigo, para a adopção de novas soluções tácticas que pudessem contrariar a superioridade orgânica da artilharia alemã, utilizando, por exemplo, a extrema mobilidade do canhão de 75 mm francês (le soixante–quinze) para equilibrar a confrontação.
As realidades da frente de combate parecem ter forçado em apenas algumas semanas a que houvesse mudanças substanciais na doutrina militar francesa, submetendo-se as abstracções do espírito e ideias inconsequentes como a ofensiva à outrance, às imposições da realidade e do experimentalismo. Anos mais tarde, Foch (que comandara a École de Guerre entre 1908 e 1911, nesses outros tempos, e que também esteve presente no Marne à frente do IX exército) escrevia: Temos meios e é preciso pô-los em acção. (...) devemos procurar utilizar os nossos meios. Encontramo-los.
Se não os encontrarmos é porque procurámos mal É preciso procurarmos melhor, que encontraremos; encontraremos sempre se nos esforçarmos por isso. Se tal não suceder é porque nos enganámos. É preciso procurar outra coisa. (...) Eis o que existe. Quem escreveu isto, terminaria a guerra em 1918 com o posto de generalíssimo dos exércitos da Entente, mas apanhara decerto um banho de modéstia e não pretenderia passar por uma grande cabeça... As grandes batalhas costumam ser vencidas (...e perdidas) por pessoas normais, incluindo os generais.

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