Pode ser quase um anátema criticar o poema de António Gedeão. Cantado ou declamado é daquelas obras que se gosta muito porque sim. Mas não sei quantos dos que o leram e/ou ouviram chegaram a reflectir logo sobre o primeiro verso: Eles não sabem que o sonho... É que, se atentos, se imporia de imediato uma pergunta: quem são os eles, ignorantes, a que Gedeão passa as culpas, por não saberem, por não sonharem? (Eles não sabem, nem sonham...) É que é tão genuinamente popular e português (e cobarde) atribuir as culpas a terceiros de uma forma difusa, sem precisar as culpas nem nomear culpados... Em A Pedra Filosofal o sonho parece algo compartilhado por uma enorme maioria sonhadora subjugada a uma minoria obtusa. Ora, não é assim nem nunca foi assim. Gosto muito de ouvir a balada cantada por Manuel Freire mas há que reconhecer quanto o poema é ideologicamente demagógico...
Exceptuando o António Teixeira e o jornal Avante, ninguém criticava o governo fascista português de forma explícita. Por razões que o A. Teixeira finge desconhecer, as críticas ao regime eram feitas através de metáforas ou expressões simbólicas. Acha que "Os Vampiros" também era uma cobardia de Zeca Afonso?
ResponderEliminarÉ capaz de ter sido assim como descreve. Se ele há uma Alice no País das Maravilhas, porque é que não pode haver um António no País dos Fascistas? Foi mesmo devido à fineza da “metáfora” e/ou “expressão simbólica” que a “Pedra Filosofal” alcançou a popularidade que alcançou, nada teve a ver com o facto de se estar em 1969 e a censura ter recebido instruções de tolerância. Estilisticamente, o processo criativo só ganhou com a frontalidade propiciada pelo 25 de Abril. Quem já esqueceu sucessos dessa época como o “Cão Raivoso” de Sérgio Godinho, que “ferrava fascistas” e “chamava-lhes um figo”?
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