27 outubro 2015

AS FACES DE UMA TRAGÉDIA PROSAICA, QUASE CENTENÁRIA

John William (tratado por Jack) Mudd nascera em 1886 no empobrecido East End londrino, um puro cockney. Jack não pertencera àquelas muitas centenas de milhares de britânicos que se voluntariaram inicialmente em 1914 para servir nas fileiras. Constituíra família, era casado com Elizabeth (tratada familiarmente por Lizzie) e já completara 30 anos quando fora chamado a cumprir o serviço militar obrigatório, tornado entretanto extensível também aos homens casados, como o governo britânico havia aprovado em legislação complementar de Maio de 1916. E é assim que o vamos encontrar em 26 de Outubro de 1917 (completaram-se ontem 98 anos) como soldado raso do 2/4º Batalhão do Regimento de Londres dos Royal Fusiliers, destacado na frente de combate na Flandres. Ao amanhecer desse dia, o batalhão de Jack participou numa das últimas acções daquela que ficou conhecida oficialmente como a Terceira Batalha de Ypres (também conhecida por Batalha de Passchendaele).
Segundo o relatório oficial, o ataque do batalhão de Jack encontrou uma resistência decidida da parte do inimigo. Adivinha-se o eufemismo. Além disso, as condições do terreno eram, como se pode ver acima, horríveis, com lama pelas coxas - são hoje imagens simbólicas do completo disparate táctico em que muitas acções daquela guerra tiveram lugar. Um parágrafo desse relatório esclarece que se tornou impossível recolher os feridos e mortos na acção. O soldado Mudd¹ foi um dos muitos que não respondeu à chamada que teve lugar depois dela terminar. A 22 de Novembro de 1917 (quase um mês depois) uma cópia do impresso regulamentar B. 104-83 foi enviado a Lizzie Mudd informando-a que o seu marido fora considerado desaparecido; a 4 de Dezembro (pouco mais de uma semana depois) Lizzie recebeu novo impresso regulamentar, o B. 104-82A, onde se estabelecia que, não tendo sido recebidas quaisquer notícias adicionais o Conselho Militar se via pesarosamente forçado a concluir que o marido da destinatária havia morrido. O corpo do soldado Mudd nunca foi encontrado. O seu nome é um dos 34.888 que constam de um Memorial aos Desaparecidos no cemitério de Tyne Cot, na Bélgica (abaixo).
¹ No inglês original há um segundo sentido que se perde na tradução. O apelido do soldado (Mudd) é homófono a uma das palavras inglesas para lama (mud).

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