9 de Fevereiro de 1946. Nessa noite o camarada Stalin compareceu numa sessão de esclarecimento organizada no teatro Bolshoi, especialmente para que ele discursasse como candidato às eleições ao Soviete Supremo que teriam lugar no dia seguinte. Eram uma fantochada. Era uma fantochada as eleições (onde se escrutinaram 99,2% de votos pelos comunistas) e também era espectável que a «sessão de esclarecimento» de Stalin fosse outra fantochada ainda maior (se possível!), pontuada por um discurso frequentemente interrompido por aplausos intermináveis, acompanhados de gritos laudatórios ao ditador, uma cenografia caricata que eu já aqui destaquei no Herdeiro de Aécio a propósito do que acontecera em Dezembro de 1937, naquele mesmo teatro e por ocasião das eleições anteriores. Só que, desta vez, o conteúdo do discurso de Staline foi avaliado - sobretudo pelos observadores estrangeiros - de maneira muito menos inócua do que fora o de 1937. Stalin fez, como se esperaria, uma avaliação do que haviam sido os anos da (Segunda) Guerra que havia terminado (quatro anos, já que a sua participação só começara em 1941). E ao fazê-lo, talvez por causa da circunstância e da assistência, mas também talvez porque o ambiente de entendimento com os antigos aliados (Estados Unidos e Reino Unido) estivesse a piorar substancialmente, Stalin fez essa avaliação de uma forma pró-soviética (o que seria de esperar) mas também pouco simpática (por omissão) para com os seus antigos parceiros (a conferência de Yalta havia tido lugar ainda há um ano, a de Potsdam há apenas seis meses). Como acontece tantas vezes em tantos outros acontecimentos, não existe um dia preciso para o começo da Guerra Fria, mas este discurso de Stalin, recuperado depois como elemento de queixa pelos americanos, tornar-se-á uma data marcante.
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