Se observarmos com atenção o mapa da Europa acima, com a demarcação «natural» das respectivas zonas horárias, apercebermo-nos-emos que tanto os três países do Benelux, como a França e a Espanha deveriam compartilhar a mesma hora que Portugal, o Reino Unido e a Irlanda. E de facto assim foi durante quase toda a primeira metade do século XX, Londres e Paris (como também Lisboa e Madrid...) viviam à mesma hora. As primeiras culpas por isso ter deixado de acontecer devem-se aos alemães, e as causas começaram há precisamente 80 anos, por causa da França ocupada. Esta passou a viver a duas horas diferentes: nas regiões controladas directamente pela Alemanha usava-se a hora alemã; nas submetidas ao governo directo de Vichy usava-se a hora francesa. O problema principal era para serviços que envolviam as duas zonas, nomeadamente os caminhos de ferro que tinham que trabalhar com horários desnecessariamente complexos. Para simplificar o horário do expresso que ligava Paris a Marselha (por exemplo), a SNCF solicitou ao governo de Vichy que alinhasse o relógio de França pela hora alemã. Esse alinhamento teve lugar por um decreto promulgado pelo governo de Vichy em 16 de Fevereiro de 1941, há precisamente oitenta anos. Porém, nos Países Baixos, na Bélgica e também no Luxemburgo nada disso fora preciso: quando da ocupação no Verão de 1940 os alemães simplesmente impuseram que se vivesse de acordo com a sua hora. Em contrapartida, em Espanha foi uma cortesia política do regime de Franco, a de se alinhar com a hora alemã a partir de 1942. A subsistência deste desalinhamento depois do final da Guerra veio demonstrar que o ritmo solar, outrora tão importante nas sociedades rurais, se tornara apenas numa convenção nas sociedades industrializadas (e dos serviços) do século XX.
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