08 fevereiro 2021

O INÍCIO DA OPERAÇÃO LAM SON 719

8 de Fevereiro de 1971. Cerca de 12.000 soldados sul-vietnamitas sob o comando do tenente-general Hoàng Xuân Lãm atravessam a fronteira com o Laos (ver mapa mais abaixo) com o objectivo de cortarem a Trilha Ho-Chi-Minh que reabastecia logisticamente a guerra que os norte-vietnamitas desenvolviam no Vietname do Sul. Mas, vale a pena recuperar um poste aqui colocado no Herdeiro de Aécio há mais de dez anos a respeito desta operação que agora completa cinquenta anos.
Se a história que, nos Estados Unidos, se quis reter da Guerra do Vietname pode ser sintetizada em fotografias como a que aparece cima, a de uma guerra de patrulhas de infantaria atravessando regiões inóspitas em busca de um inimigo que se escondia e só se dispunha a combater em locais à sua escolha, a verdadeira Guerra do Vietname é algo mais complexa que isso. Depois da Administração Nixon ter decidido evacuar todas as forças combatentes dos Estados Unidos, e substitui-los por sul-vietnamitas (a chamada vietnamização), o cenário da Guerra alterou-se significativamente. Com os norte-americanos agindo cada vez mais como assessores e não integrados em unidades combatentes, a grande maioria das batalhas que tiveram lugar durante a década de 70 foram de tipo convencional, envolvendo imensos meios aéreos e blindados. Um dos primeiros exemplos disso foi a Operação Lam Son 719, uma iniciativa conjunta norte-americana e sul-vietnamita para bloquear e estrangular a Trilha Ho Chi Minh (acima) que era a via de reabastecimento com que, através do território do Laos, o Vietname do Norte abastecia logisticamente a guerrilha no Vietname do Sul (abaixo).
O nome da Operação era pomposo: Lam Son era o nome de uma revolta dos vietnamitas contra os chineses que tivera lugar em 1427 e o 719 resultava da junção do ano da ofensiva (1971) com o número da antiga estrada colonial (francesa) que constituiria o eixo da progressão, a nº 9 que ligava Quang Tri no Vietname a Tchepone no Laos. A Operação estava estruturada em 4 fases que passavam pela conquista, manutenção e posterior evacuação em boa ordem da cidade laociana. A Operação tinha o objectivo político de mostrar as novas capacidades do exército sul-vietnamita, o sucesso da vietnamização.
Descrevendo-a de uma forma necessariamente sucinta, a resistência às colunas que pretendiam progredir ao longo da estrada nº 9 aumentou a tal ponto que houve que recorrer a um gigantesco assalto heli-transportado (acima), o maior de toda a Guerra do Vietname, empregando 120 helicópteros Huey(*), para que dois batalhões de soldados sul-vietnamitas conseguissem finalmente conquistar o objectivo final de Tchepone. Para efeitos do objectivo político da Operação esse terá sido o momento da consagração (abaixo). Mas o pior estava para acontecer quando se quisesse proceder à evacuação em boa ordem
Foi aí, debaixo do fogo dos contra-ataques dos norte-vietnamitas que os militares norte-americanos se aperceberam das fragilidades dos seus aliados, nomeadamente a completa perda de disciplina quando em situações adversas (abaixo, soldados sul-vietnamitas pendurados nos patins dos helicópteros de evacuação dos feridos…). Mas, como tantas vezes acontece, essa realidade teve que desaparecer perante as necessidades políticas: para benefício dos seus respectivos auditórios tanto Richard Nixon quanto Nguyễn Văn Thiệu, o presidente do Vietname do Sul, validaram o sucesso da vietnamização
(*) Para comparação, por essa altura a Força Aérea portuguesa dispunha de 100 helicópteros para o conjunto dos seus 3 Teatros de Operações em África (Angola, Moçambique e Guiné). E no conjunto, norte-americanos e sul-vietnamitas perderam 108 helicópteros durante a Operação Lam Son 719.

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