Por vezes, encontram-se nalgumas edições do jornal notícias discretas, quase irrelevantes para o leitor desse dia, mas a que os leitores do futuro atentos saberão dar o devido relevo e significado. É o que acontece com esta curta notícia de 12 de Fevereiro de 1941, a respeito de uma conferência de imprensa dada pelo presidente Roosevelt, em que ele procurou descansar os britânicos, assegurando-lhes que o apoio dos Estados Unidos não diminuiria na eventualidade de estes se verem envolvidos numa guerra no Pacífico (lembre-se que os Estados Unidos eram neutrais e se estava ainda a dez meses do ataque japonês a Pearl Harbor). O futuro comprovará que Franklin Roosevelt estava a dizer a verdade: depois de engajados na guerra, a prioridade dos Estados Unidos sempre foi a Europa e derrotar a Alemanha. O que o presidente americano acrescentou é que se veio a revelar profeticamente mentira: mesmo que ele se sentisse na obrigação de dizer que «pensava» que não haveria risco de guerra no Pacífico, houve mesmo guerra no Pacífico. Esse desfecho não estava nas suas mãos e é significativo que Roosevelt se tivesse recusado «a ser mais explícito» naquele ponto. É da natureza da política que as comunicações presidenciais sejam mesmo assim: metade verdade, metade mentira. O meu problema com as de Marcelo a propósito da pandemia é que não tenho a clarividência histórica de conseguir separar uma de outra.
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