Este editorial de Ana Sá Lopes, a pretexto do terceiro aniversário da liderança do PSD por Rui Rio, é muito interessante. Como a tenho por uma mulher inteligente, tenho de admitir que foi deliberadamente que contornou alguns dos aspectos essenciais que enformam as características de se ser oposição em Portugal. Como ela diz é um cargo «difícil e mal-amado», mas como ela apenas sugere, referindo-se a Durão Barroso, as qualidades que se exibem naquele cargo oficioso podem ser irrelevantes para o sucesso de se vir a ser primeiro-ministro. Aconteceu com ele, apesar de ter sido uma «tragédia». Como Ana Sá Lopes não quer concluir, mas todos os grandes ambiciosos da política deste país sabem, o importante não é o que se faça, é ocupar aquele cargo - líder da oposição - na altura certa. De resto, foi o que fez o actual titular (da chefia do governo), António Costa, que só arriscou a sério a corrida ao cargo (de líder da oposição) depois de deixar o antecessor António José Seguro desgastar-se no cargo (o famoso «caminho das pedras»). E a altura certa é quando o governo se desagrega. É uma tradição nacional, tida pelos historiadores como consolidada, desde o período da monarquia constitucional do século XIX, que em Portugal não são as oposições que costumam conquistar o poder; são os governos que se encarregam disso, desagregando-se sozinhos. E, mais uma vez, Ana Sá Lopes parece evitar inspirar-se no exemplo de Durão Barroso, que é emblemático a esse respeito: «É possível que aconteça algo inesperado que leve Rui Rio ao poder. O problema é que não parece que, salvo algo inesperado, isso esteja para acontecer». Porém, em Dezembro de 2001, quando António Guterres se demitiu na sequência das eleições autárquicas, o inesperado só foi inesperado por causa da incompetência da comunicação social, que não conseguiu descortinar os imensos sinais de desagregação que o governo viera a dar desde há meses. Infelizmente, tenho a convicção que a comunicação social não se tornou particularmente mais arguta nestes últimos vinte anos, e não se pode descartar que «algo inesperado» possa ocorrer de novo, mesmo que Ana Sá Lopes ache que não. Rui Rio teria a mesma sorte que foi a «sorte» de Durão Barroso. Mas o problema por detrás do editorial de Ana Sá Lopes é o anterior, o das (in)competências da comunicação social. É que aí Rui Rio parece-me o primeiro aspirante ao cargo que distrata sem pudor nem embaraço a classe profissional dos jornalistas, confrontando-os por aquilo que são: aspirantes a actores políticos, muito opinativos, mas que não se querem expor a escrutínio eleitoral. Num exemplo muito recente tornou a acontecer no Observador e depois os políticos do jornal queixaram-se... Na verdade, a essência da luta política em Portugal e, por outro lado, aquilo que os órgãos de comunicação social precisam para preencher os espaços vazios a respeito dessa mesma luta política, nada têm a ver uma coisa com a outra. Por exemplo, os debates quinzenais eram uma animação para a comunicação social, mas o primeiro-ministro em exercício saía sempre por cima - até o imbecil do Pedro Santana Lopes! Para quê o líder da oposição insistir em mantê-los? Porque gosta de levar porrada ou para que a comunicação social ande entretida a dizer coisas ao público? Em síntese: se Rui Rio chega ao poder por causa de um colapso fortuito do governo de António Costa, seguido de eleições em que os eleitores não perdoarão ao PS esse colapso, isso tornar-se-á a prova que o maior objectivo de um político ambicioso - chegar ao poder - se consegue sem e até mesmo contra as influências do lóbi dos jornalistas políticos. Já imaginaram comprovar-se que Ana Sá Lopes, José Manuel Fernandes, António José Teixeira, Ricardo Costa, sei lá eu quem mais, não valem um chavo em termos de influência pública? Não o confessando, neste balanço de três anos de liderança de Rui Rio à frente do PSD, Ana Sá Lopes está a bater-se pela subsistência da sua actividade ameaçada... Isso, parece-me, ela esqueceu-se de escrever...
Não deixa de ser caricato ver que esse "circo" foi financiado pelo Estado, quando o devia ser pelo leitores (aquisição) e empresas (publicidade), e de acordo com a PORDATA tem um número de integrantes no papel de votantes cada vez menor. Em 2019 foram menos de, versão de copo meio cheio, 50%.
ResponderEliminarSe o A. Teixeira me permitir:
ResponderEliminarPenso que o amigo Webrails labora num tremendo equivoco na forma como o financiamento do "merdia" realmente existente, realmente se processa...
Deixo-lhe algumas pistas:
1) mesmo aceitando que o financiamento dos "merdia" se deve fazer pelos processos mercantilistas dogma do capitalismo neoliberal que actualmente rege o Imperio Ocidental onde Portugal esta inserido - nao existe um unico grupo de media que genuinamente de lucro... O Jornalismo e sempre uma despesa.
2) Para realcar o meu ponto 1 acima:
2.1 Repare que sempre que ha dificuldades financeiras nestes grupos, qual e a primeira accao "correctiva"? Reduzir circulacao de jornais, reduzir as seccoes de jornalismo...
2.2 Os proprios grupos que gerem os "merdia" ja nao tem medo de o admitir em microfone aberto: Belmiro de Azevedo quando a Sonae comprou o Publico: "eu nao ando a comprar jornais para fazer dinheiro"
3) Aconselho vivamente a leitura de um livrinho, ja velhote, mas de uma actualidade as vezes desarmante:
Herman, E. S., & Chomsky, N. (1988). Manufacturing consent: The political economy of the mass media. New York: Pantheon Books.
Uma pequeno trecho:
"The mass media serve as a system for communicating messages and symbols to the general populace. It is their function to amuse, entertain, and inform, and to inculcate individuals with the values, beliefs, and codes of behavior that will integrate them into the institutional structures of the larger society. In a world of concentrated wealth and major conflicts of class interest, to fulfill this role requires systematic propaganda."
"In countries where the levers of power are in the hands of a state bureaucracy, the monopolistic control over the media, often supplemented by official censorship, makes it clear that the media serve the ends of a dominant elite. It is much more difficult to see a propaganda system at work where the media are private and formal censorship is absent. This is especially true where the media actively compete, periodically attack and expose corporate and governmental malfeasance, and aggressively portray themselves as spokesmen for free speech and the general community interest. What is not evident (and remains undiscussed in the media) is the limited nature of such critiques, as well as the huge inequality in command of resources, and its effect both on access to a private media system and on its behavior and performance."
Lowlander, uma razoável polémica entre comentadores faz parte das regras do jogo destes meios e é bem vinda.
ResponderEliminarContudo, permita-me chamar-lhe a atenção, dado o «formato» da sua argumentação, que não sei e não sabe se o seu interlocutor tem a desenvoltura necessária com o inglês para acompanhar as suas transcrições...
Do meu galho, e agradeço a salutar abertura do dono do quintal para o debate, tenho de dar razão ao Lowlander.
ResponderEliminarTambém vejo um quelho que necessita de ter médias a funcionar, e a funcionar como empresas privadas.
Entidades que se não têm liquidez para operar, porque o que portefólio não cria mercado, encerram.
Se assim não é para os média generalistas, mesmo sendo relevante para a harmonia do sistema instalado, é necessário mexer.
Tem de se tirar essa capacidade ao sistema e retirar-lhe a poder de fomentar a autocensura.
Se a visão liberal então vamos a ela.
P.S.
A. Teixeira, estava com receio, e ficaria espantado, se não desse um pouco da sua graça.