28 fevereiro 2021

A MORATÓRIA QUE SALVAVA FINANCEIRAMENTE A POLÓNIA

28 de Fevereiro de 1981. Muito escondida no Diário de Lisboa, esta seria porventura uma das notícias mais interessantes daquele dia, a de que os Estados Unidos haviam prorrogado os prazos de vencimento das dívidas que a Polónia havia contraído junto dos bancos americanos. Por arrastamento, os restantes bancos ocidentais que haviam emprestado dinheiro à Polónia iriam adoptar aquela mesma medida. A Polónia era então uma presença rotineira nos cabeçalhos noticiosos por causa da crise social que ali grassava desde o Verão de 1980. Sendo um país da órbita da União Soviética, uma preocupação recorrente era o comportamento que esta última adoptaria no caso da crise política polaca escapar ao controle dos dirigentes locais: havia os precedentes das intervenções soviéticas na Alemanha Oriental (1953), na Hungria (1956) e na Checoslováquia (1968). Mas o que não se assumia era que os Estados Unidos eram, como acima se vê, outra das incógnitas da equação polaca. A Polónia era um país comunista onde, graças a subsídios, se vivia com um padrão de vida acima do que a sua própria economia conseguia suportar. Mas, porque a Leste os capitais eram escassos, quem acabava por sustentar esse «bem-estar socialista» era a «banca capitalista» do Ocidente. A execução das dívidas que os Estados Unidos haviam diferido, salvava a Polónia de ser relegada para a condição de um estado pária no campo das finanças mundiais (FMI) por incumprimento. Incumprimento esse que não interessaria ao «status quo» - tanto o comunista quanto o capitalista. E também não interessava a ninguém que se soubesse com tanta nitidez que a Polónia estava quase tão dependente financeiramente de Washington como o estava politicamente de Moscovo. A notícia aparecia na página 10 e não muito desenvolvida nas explicações das justificações e consequências do que noticiava.

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