Depois de há um mês, o mundo científico e, sobretudo, o mundo jornalístico ter sido abalado pela descoberta da fosfina ou fosfamina na atmosfera venusiana, eu tremo ao pensar no terramoto que o mundo mediático poderá vir a registar, se se confirmarem os resultados contidos num trabalho entretanto apresentado para publicação na Universidade de Cornell, em que os seus autores afirmam terem encontrado glicina naquelas mesmas altitudes da atmosfera venusiana onde se havia detectado a fosfina. Mais espectacular de noticiar que esta última, a glicina é um dos aminoácidos codificados pelo código genético dos seres vivos no planeta vizinho, a Terra, e portanto um pretexto ainda melhor para publicar caixas e cabeçalhos especulando sobre a existência de venusianos. Como aconteceu há um mês, o que eu não imagino nesses títulos são explicações verdadeiramente úteis, refreando entusiasmos, como a menção de que há para aí uns 500 aminoácidos, que só 20 deles estão presentes no código genético e que, desses 20, a glicina é o mais simples de todos. Se o trabalho for aceite, o que creio ser provável que aconteça, os leitores deste blogue já estão prevenidos que a nova moda científica irá ser a das especulações sobre a vida microbiana a grande altitude em Vénus! Convirá (re)ler alguns conceitos como as teorias de Alexandre Oparin e a experiência de Miller e Urey. A propósito destas duas últimas, e em registo menos exuberante, foi publicado no entretanto no youtube (isto é, já depois da descoberta da vida em Vénus), um vídeo explicando as simulações do que pôde ocorrer, através de um programa de computador desenvolvido na Polónia, em que se ensaiam as várias combinações como as moléculas mais elementares se puderam associar, por forma a assumir as formas complexas da química orgânica que agora conhecemos. É muito giro, mas é preciso gostar do assunto.
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