31 outubro 2020

QUANDO OS JORNAIS ALIMENTAM OS COMPLEXOS DE SE SER PORTUGUÊS

Um dos primeiros obstáculos à nossa emancipação está dentro de muitas das nossas cabeças. E é um processo que se auto-alimenta, como se pode ver pelo exemplo da notícia acima. Mas, a propósito dela, comecemos por separar o trigo do joio: entre os profissionais que se dediquem a lutar pela erradicação de pandemias, considero obrigatório que estejam atentos aos resultados que se obtêm pela experimentação de processos alternativos de controle da covid-19 em países vizinhos; na Finlândia e na Estónia, como é noticiado acima, mas também em todos os países do Mundo, caso do Paquistão. Mas o que a Maria João Guimarães escreveu ontem no Público não tem nada a ver com isso. Não é conversa entre profissionais, nem sequer é conversa para que os amadores (leitores) compreendam o que os profissionais andam a fazer. Porque, obviamente e se os resultados encorajadores do controle da pandemia tiverem acontecido no Paquistão, ela não teria contado história nenhuma: os jornalistas, para serem lidos, apostam no complexo que o português típico terá em relação aos habitantes dos países do Norte da Europa (daí a referência à Finlândia e à Estónia), complexos esses de inferioridade que não existem (antes pelo contrário) em relação aos paquistaneses. É por isso que será improvável lermos no Público, escrito pela Maria João Guimarães ou por outro qualquer colega seu, textos com exemplos de sucesso ocorridos no Paquistão. Ou no Uruguai. Isto não são histórias de sucessos, são histórias de preconceitos: os que existem e os que jornalistas crêem que existem no espírito de quem os lê. O que é uma porcaria e tem vezes em que a maior porcaria do jornalismo ocorre ainda antes da primeira palavra ser escrita.

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