23 de Outubro de 1940. A importância de Lisboa como entreposto central das viagens entre a Europa e a América do Norte durante a guerra, consagrada naquela famosa cena do filme Casablanca em que apanhar o avião para a nossa capital representava a salvação, e uma fuga da zona de guerra, podia comprovar-se com a leitura de duas discretas notícias no Diário de Lisboa de há oitenta anos. Numa delas, a da esquerda, noticiava-se que o embaixador americano no Reino Unido estava de partida de Londres para Lisboa, onde apanharia um dos luxuosos hidroaviões «Clippers» (abaixo) na continuação da sua viagem de trabalho aos Estados Unidos, onde iria conferenciar com o presidente Roosevelt. Na verdade, o embaixador caíra no desagrado do governo junto do qual estava acreditado e não regressaria a Londres, mas o que é engraçado naquela notícia é comparar o percurso do voo com os actuais, em que é muito mais provável que apanhemos em Lisboa um voo para Londres, para aí apanharmos um outro voo para a América do Norte, do que a rota da viagem do embaixador (veja-se mais abaixo).
Mas a questão não seria certamente de cariz político. Joseph Kennedy teria perfeitamente podido ter feito a viagem através da Irlanda, país tão neutral quanto Portugal. Seria uma viagem mais curta mas não a fez. Na mesma edição do jornal estará uma outra possível explicação para isso (à direita). Nela publicava-se um comunicado da Pan American, a empresa que efectuava as ligações aéreas entre os dois continentes, onde se anunciava uma próxima alteração da rota dos seus hidroaviões que atravessavam o Atlântico, conforme o traçado (a azul) que se pode apreciar no mapa mais abaixo. A explicação oficial era o aproveitamento d«os fortes ventos alísios» mas a razão mais plausível para que se passassem a fazer três escalas em vez de apenas uma na cidade da Horta, nos Açores, como acontecera até aí (a laranja), é que o trajecto se afastava bastante mais do Atlântico Norte, onde então se começara a travar uma prolongada batalha. Uma batalha sobre as águas e debaixo delas, mas na Pan Am, mesmo que passando por cima, pensava-se que era melhor não arriscar.
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