18 outubro 2020

FOSSE O JORNALISMO VERDADEIRAMENTE AUTÓNOMO...

...e já há algumas semanas teria sido notícia substantiva a manobra de bastidores para o lançamento de uma eventual candidatura de Paulo Portas a Lisboa. Manobra de bastidores, mas não tão secreta assim para que ela tivesse passado desapercebida aos «influencers» de rede social, sempre preocupados em mostrarem-se «por dentro» do que se passa, como se comprova pela publicação de facebook abaixo. A questão, contudo, é evidentemente bastante mais complexa do que o «adesismo flâné» do digital influencer. Haveria que conciliar as aparências da disponibilidade de Paulo Portas, mais o seu amor próprio de não querer passar por muito «oferecido», com os anti-corpos que ele gera nas estruturas e no eleitorado do PSD, qualquer um deles (estruturas e eleitorado, e por motivos diferentes) indispensáveis para que Paulo Portas tivesse hipóteses de vencer Fernando Medina. A acrescer à dificuldade de concórdia, o problema dos últimos resultados autárquicos em Lisboa em 2017, quando o CDS obteve uma votação que representou quase o dobro da do PSD: com que bases de representatividade se constituiriam as listas autárquicas?
Em suma, deduziam-se muitas dificuldades, que eu não sei se chegaram a existir, porque os jornalistas não chegaram a acompanhar e a noticiar com o detalhe que a intriga política mereceria, aquilo que estaria - ou não estaria - a acontecer. Foi um silêncio até hoje, quando constatei que Paulo Portas havia encomendado uma entrevista no Público a Maria João Avillez. E ela lá foi, obediente, mas sempre a dar aqueles ares de quem está a fazer um favor aos outros, entrevistando-os com toda a sua sagesse. A entrevista era, essencialmente, para anunciar o fim da história da candidatura de Paulo Portas à câmara de Lisboa e mais uns trocos a propósito de Marcelo. Pelos elogios que dedica a este, o antigo director-adjunto do Pelo Socialismo continua a mostrar-se a mesma pessoa de sempre, capaz de deitar para trás das costas os rancores do passado, seja a popularidade duvidosa que conferiu outrora a uma sopa fria francesa, seja mesmo o enriquecimento semântico que trouxe ao nosso idioma com a conotação reversível do adjectivo irrevogável.
Em remate de comentário, e igual a ele próprio, Paulo Portas continua a ser o ingrato que espalha toda aquela impopularidade que consta do seu rasto político: veja-se abaixo, o agradecimento que endereça, en passant, na entrevista, aos digital influencers que, ainda assim, o endossaram, como é o caso do exemplo mais acima...
Adenda: E para regressar ao princípio, aprecie-se a «virtude» de alguns dos tais digital influencers, no caso concreto este que acompanhámos, perguntando-se inicialmente «por que não Portas», a «virtude», qualificava eu, de se dar por desentendido, e fingir não ter percebido os recados dedicados por Portas à classe. Tanto mais caricata a atitude quanto, a este, já o vi a fazer figura de raivoso, prometendo umas patéticas bengaladas, ressurreição em caricatura de um ambiente queiroziano lisboeta de há uns 150 anos. Mas aqui, quando Portas lhe aplica a bengala no sítio onde as costas mudam de nome, amocha. Vá-se lá saber porquê. Mas que tem imensa piada, tem.

Sem comentários:

Enviar um comentário