Ao constatar que concorrem nada menos do que doze moções de estratégia ao próximo congresso do CDS e que nessas doze canções (perdão, moções...) concorrentes aparecem algumas com títulos tão sugestivos quanto «Bases para Crescer», «Portugal Sempre», «Direita Autêntica» ou «As Pessoas Primeiro», dir-se-ia que estávamos numa versão antecipada do próximo Festival RTP da Canção, versão direita política. Eu bem sei que não será intenção de cada um dos doze proponentes, individualmente, expor o partido onde militam ao ridículo, mas o efeito combinado e agregado de tanta ambição em definir a estratégia futura do CDS acaba por resultar nisso mesmo. Doze moções de estratégia, quase tantas moções sectoriais, cinco candidatos à liderança, para um partido que tem outros tantos deputados num parlamento de 230. As intenções serão boas, mas, e disso os proponentes não têm desculpa, os títulos que foram escolhidos para a dúzia de moções concorrentes primam pelo truísmo desinspirado. Faça-se o exercício cruel de contradizer tais títulos para nos certificarmos se, de facto, representam opções políticas de fundo para o futuro do CDS ou se, pelo contrário, se trata de afirmações consensuais que não adicionam valor ao debate de ideias que sempre se deseja nestas ocasiões: alguém ali defenderá as «Bases para diminuir?», o «Portugal Nunca?», a «Direita Falsa?», deixar «As Pessoas para o Fim?». Se os compararmos, a estes títulos anódinos, com os escolhidos para as canções do Festival RTP do ano passado (veja-se acima), «Perfeito», «Inércia», «É o que é», «O Meu Sonho» e até mesmo os «Telemóveis» de Conan Osíris (que, como se sabe, veio a vencer o certame), admita-se que estes últimos tinham a virtualidade de parecerem muito mais apelativos. E a verdade crua é que, para efeitos práticos futuros, tanta importância se dispensa a uma moção de estratégia de um congresso partidário quanto à letra de uma canção de festival... (Alguém se lembra hoje que a moção que Assunção Cristas assinava em 2018 se intitulava «Um passo à frente»? - O problema, percebe-se agora, é que o CDS estaria mesmo à beira do abismo...) Não estou com tudo isto a sugerir que, por inspiração festivaleira, os apoiantes do favorito Chicão tropecem e caiam com fragor no palco cada vez que forem discursar*, mas a verdade é que o CDS actual parece padecer de uma desproporção ridícula entre quem acha que tem coisas para opinar e quem se dispõe a protagonizá-las, às coisas. E o resultado acaba por ser este.
* Imitando a interpretação do adjunto do Conan Osíris, que se esbardalhava todo.
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