Ontem, no final do Concerto de Ano Novo, quando do encore, dou por mim a topar um casal de vizinhos que, notoriamente, não conhecia a coreografia da tradicional Marcha de Radetzky, batendo entusiasmadamente palmas nas alturas certas... e confrangedoramente também nas erradas. É verdade que a dupla já se tinha destacado pelo uso anterior de um daqueles binóculos de teatro, adereço tão extravagante quanto inútil num concerto, a não ser quando, excepcionalmente, a solista apareceu em palco com uma saia comprida que tinha uma racha até à anca. De resto, o comportamento da dupla havia sido discretamente neutro até aí, mas a sua reputação por parte dos ocupantes das cadeiras vizinhas descambou abruptamente e na proporção inversa de quanto mais audíveis se tornavam as palmas do casal numa sala outrotanto... silenciosa. Sim, porque há a ignorância (de saber quando bater e não bater palmas) mas ela pode potenciar-se com a estupidez (de não olhar para os lados para, na dúvida, copiar o que os outros estão a fazer). O corolário é uma expressão de beatitude interrogadora aos circunstantes para as razões porque esmorecera o entusiasmo?... E fica-nos assim aquela sensação desagradável e, quiçá, pedante, de que ele há pessoas que não deveriam ir a estas coisas sem ter visto um tutorial de como se comportar. E a marcha em questão, acompanhada das palmas da assistência, é um mínimo de admissão. Constatação que, afinal, até nem é nada por aí além: alguém pensaria em ir a um concerto dos Queen sem conhecer de cor a letra do refrão de Love of My Life?... Pois isto é a mesma coisa, só que em sofisticado, com alguns casacos de peles.
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