19 janeiro 2020

A MORTE DE SIR BERNARD WOOLLEY

Constato que há imenso por fazer no domínio da inteligência artificial quando aplicada à área da informação. O meu telemóvel, que se farta de me dar notícias para as quais me estou positivamente cagando, esqueceu-se de me dizer que morrera, aos 82 anos, Derek Fowlds aka Sir Bernard Wooley, o secretário do ministro dos assuntos administrativos, Jim Hacker, na série Yes Minister. O actor teve uma carreira preenchida, desempenhou outros papéis, mas, em termos de popularidade internacional, Derek Fowlds era Bernard Woolley, o último sobrevivente do trio nuclear de personagens da famosa série que é também um interessante estudo sobre ciência política e a arte de governar. Nos (inesquecíveis) diálogos, Bernard representava a terceira perspectiva de um mesmo assunto, entre a política e a burocrática dos seus dois superiores hierárquicos. A maioria das vezes era a perspectiva apaziguadora, discreta e de bom senso, mas também podia ser irritantemente irrelevante ou mesmo irreverente - como nesta famosa passagem abaixo, sobre o perfil típico do leitor de cada um dos grandes jornais ingleses, em que tinha que ser Bernard a rematá-la com o comentário de que o leitor típico do Sun (jornal tablóide) não tem interesse algum em saber quem governa o país desde que tenha umas grandes mamas (um conteúdo tradicional da sua terceira página).

Um apontamento final com alguma dose de ironia. Os textos de Yes Minister foram redigidos a partir de 1981 acompanhados da ficção que se tratava de um estudo académico redigido algures no futuro, com o contributo de Sir Bernard Woolley, o único dos três intervenientes que ainda estava vivo. Do livro consta um ante-texto ficcionado com os agradecimentos da praxe, que aparece datado como sendo de Setembro de 2019. Acabou por vir a conferir...

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