27 de Janeiro de 1820. Hoje cumprem-se duzentos anos da data da descoberta oficial do continente antárctico. A autoria foi de uma expedição russa de dois navios, Vostok e Mirnyi, comandados por Fabian von Bellingshausen e Mihail Lazarev. Os registos do feito incluem costumam incluir os dois comandantes, provavelmente para atenuar o impacto de uma proeza russa ter sido encabeçada por alguém com um nome tão ressonantemente germânico - von Bellinghausen (era originário de uma família da nobreza balto-germânica). Mas esse está longe de ser o único indício que a questão do descobrimento da Antárctida tem muito mais a ver com o nacionalismo do que com a geografia. Para os britânicos, o feito russo terá superado o de um compatriota (Edward Bransfield) por uns escassos três dias. Para os americanos foi uma questão de dez meses e o nome do seu herói descobridor é Nathaniel Palmer. A ironia desta disputa é que desde o Século XVI, pelo menos uns 250 anos antes, houvera condições técnicas para que navegadores e exploradores se tivessem aproximado do continente austral, especialmente nesta época do ano (Janeiro), quando ali se está em pleno Verão. Isso não implica assegurar que outros navegadores de outras nacionalidades já lá tivessem estado. Mas implica relativizar a certeza da descoberta. A verdade é que, dadas as condições meteorológicas, a eventual presença de predecessores de Bellinghausen teria sido breve e inconsequente e tão difícil de confirmar quanto de desmentir. Não havia qualquer interesse económico naquela região para superar as enormes dificuldades técnicas do assentamento e ali fixar populações. Por isso, se alguém já tivesse descoberto o continente, também não teria tido qualquer estimulo material em reivindicar essa descoberta. (Sobre a dificuldade e desinteresse em colonizar locais onde se verificam condições meteorológicas tão austeras, veja-se este meu poste sobre as Ilhas Kerguelen).
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