20 de Janeiro de 1960. Têm lugar em Bruxelas as cerimónias de abertura de uma conferência negocial entre as autoridades coloniais belgas e as diversas formações políticas representantes dos congoleses, que os primeiros designaram por Table Ronde (Mesa Redonda). O discurso de abertura de Gaston Eyskens, o primeiro-ministro belga parece ser cristalino quanto às intenções belgas. «A mesa redonda tem por fim pôr em presença congoleses, entre eles, por um lado, e congoleses e belgas por outro. Deverão encontrar em conjunto, sendo esse o objectivo da conferência, os meios de virem a organizar o exercício do poder. Esta obra inspirar-se-á não só nos princípios democráticos e nas aspirações profundas das populações africanas, mas ainda nas exigências do interesse geral do Congo. O governo não deseja propor-vos uma agenda rígida preparada de antemão, pois caberá à conferência assentar nas suas próprias modalidades processuais mas é essencialmente em problemas políticos que se centrará a actividade desta reunião, empenhando-se mais precisamente em definir as modalidades concretas da aplicação das primeiras estruturas nacionais do Congo.» Antecipadamente, os belgas haviam acautelado uma composição o mais heterogénea possível para a delegação congolesa, formada por 44 membros mas representando 14 formações políticas diferentes para além dos chefes tradicionais que também foram convidados para estarem presentes. Todas estas precauções dos belgas para um calendário negocial que fosse conduzido a um ritmo pausado de nada serviram. Do outro lado os nacionalistas congoleses queriam a independência o mais depressa possível, e entre os belgas não havia força anímica para se baterem, política e mesmo militarmente no terreno, por uma transição mais regrada. O Congo tornou-se independente a 30 de Junho de 1960, uns escassos cinco meses depois desta Table Ronde. O discurso de Eyskens fora atropelado pela História. Num momento não desprovido de um significado maior do que o próprio acto, durante a cerimónia da independência, um dos membros da assistência tentou roubar a espada do rei dos belgas à frente de toda a gente(!), histórias pequenas que comprovam que as crónicas da descolonização foram quase sempre embaraçosas, que não se trata de um exclusivo português.
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