14 março 2016

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL EM MOÇAMBIQUE

Há duas razões por que quero elogiar este livro. Começando pela menos importante, há uma tendência para os jornalistas quando publicam os seus livros mobilizarem a sua rede de contactos para a sua promoção. É compreensível que assim aconteça, mas o processo, de tão banalizado, acabou desvalorizando quaisquer obras que nos aparecem impingidas a destempo e a despropósito num qualquer programa onde nunca se fala de livros a não ser para promover o dos colegas - o que, reconheça-se, constitui a esmagadora maioria deles em meios como a rádio e a televisão. Não dei por essa operação de promoção da parte do autor, o jornalista Manuel Carvalho (se calhar houve e estou aqui a elogiá-lo injustamente e pela falta de jeito...), mas reconheça-se que o livro me apareceu (Outubro de 2015) como uma surpresa. E isso foi vantajoso. A segunda razão, principal, é que o livro é bom. O título e o subtítulo estarão um pouco carregados demais para vender - Portugal esqueceu-se daquela guerra como se esqueceu de tudo o que se passou naquela época. À laia de demonstração e tirando os interessados (sou um deles), peça-se a um português mediano que escreva, por exemplo, aquilo que sabe sobre Sidónio Pais: qual será a dimensão do parágrafo?... O que não impede que possa haver um núcleo importante de leitores a quem esta obra possa interessar. E interessa saber, por exemplo, que os primeiros recontros tiveram lugar ainda em 24 de Agosto de 1914 através de um ataque dos alemães a um remoto posto fronteiriço português. A Alemanha acabara de entrar na Guerra, Portugal declarara-se neutral, mas a intimidatória iniciativa dos alemães mostrava a realidade estratégica tal qual se apresentava. A declaração de guerra formal só ocorreu 19 meses depois, em Março de 1916. Houve três expedições sucessivamente enviadas para o Norte de Moçambique. Portugal, ao contrário do que costuma ser a nossa tradicional lamúria histórica, sempre dispôs neste conflito de mais efectivos e de mais meios do que o inimigo. E, apesar disso, perdeu consistente e embaraçosamente quase todos os confrontos directos em que se envolveu. Isso, Manuel Carvalho, citando variados testemunhos presenciais, inteligentemente não tenta explicar. Deixa-nos a liberdade de formar a nossa opinião.

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