30 março 2016

A BATALHA DE TALAS (751)

No Verão de 751 os exércitos muçulmano e chinês defrontaram-se directamente pela primeira e última vez no vale do rio Talas, perto da actual cidade cazaque de Taraz (embora já em território que hoje faz parte da Quirguízia). Os árabes venceram a batalha mas as fontes que relatam a batalha são predominantemente chinesas. As elites dirigentes pertenciam aos grupos mencionados (com a curiosidade adicional do general chinês ser de origem coreana) mas os contingentes envolvidos na batalha seriam predominantemente locais, povos iranianos e turcos, antes de se islamizarem. Como costuma acontecer, os participantes não se terão apercebido do significado simbólico do embate. As móveis formações árabes não prosseguiriam a sua expansão militar pela Rota da Seda até ao Sinkiang e pelo Deserto de Gobi. Por seu lado, as preocupações chinesas com a expansão para Ocidente sofreriam uma pausa que duraria todo um milénio. Nem mesmo a desforra militar que se impunha ao Imperador Xuanzong (da dinastia Tang) promover acabou por ter lugar, por causa da eclosão da revolta de An Lushan em 755. Do outro lado, também os Califas Omíadas haviam sido substituídos pelos Abássidas.
Esta Batalha do rio Talas travada em pleno coração da Ásia terá o mesmo significado simbólico que a Batalha de Poitiers, travada no Outono de 732 (19 anos antes) em pleno coração da Europa, quando os exércitos francos derrotaram os seus homólogos árabes que procediam à sua característica expansão militar no extremo ocidental do vasto território já subjugado à dominação muçulmana. Há quase 5.500 km a separar os dois locais mas, se as consequências da vitória de Carlos Martel são razoavelmente conhecidas no Ocidente, as da derrota de Gao Xianzhi são quase completamente ignoradas. Numa altura em que tanto se discute a relativização da importância atribuída às notícias conforme a localização geográfica do local onde ocorrem - se os mortos de Bruxelas são mais importantes do que as vítimas do terrorismo de outros locais mais distantes, por exemplo - forçoso é reconhecer quanto o fenómeno da distorção das importâncias relativas dos temas é antigo. Seria desejável e eu seria dos primeiros a corrigi-lo, mas tenho que reconhecer que a exigência de que que haja uma globalização equilibrada sobre a importância absoluta das notícias parece-me fenómeno que não esteja para ocorrer assim tão depressa...

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