20 março 2015

«WICKED GAME»

Confesso que, quando originalmente li a primeira das notícias acima em finais de Setembro passado, desconfiei dela, por suspeitar que se tratasse de uma notícia plantada para nos dar a impressão de uma inflexão das relações do governo português com a tróica, consideradas até aí muito subservientes durante todo o período da intervenção, na altura precisa em que Carlos Moedas, que corporiza como ninguém essa subserviência, estava de partida para ocupar o seu lugar de comissário em Bruxelas. Quase seis meses decorridos, ao ler a segunda das notícias, as minhas suspeitas desvanecem-se para se substituírem pela perplexidade quanto à valia técnica dos quadros encarregados de nos policiar. Se estes temiam pelas repercussões que o aumento do salário mínimo poderia desencadear e se Portugal registou a maior queda dos custos laborais de toda a União Europeia (8,8%) no trimestre que se seguiu a esse temor, imagine-se agora qual teria sido a amplitude da contracção dos custos salariais dos portugueses se não se tivesse manifestado aquela disposição de actualizar o salário mínimo nacional. Ou então não, que afinal o temido sinal de complacência acima mencionado acabou por não vir a influenciar a realidade económica e os portugueses continuaram a progredir, a trabalhar  cada vez mais por menos dinheiro. Em síntese, e mesmo depois da partida de Gaspar e de Moedas, e por muito que Maria Luís Albuquerque gabe o recheio dos cofres, os portugueses continuam a sentir-se um joguete de um jogo perverso, de um Wicked Game, que é jogado a partir de Bruxelas e onde Lisboa praticamente não conta. E preparem-se que, a haver certezas quanto ao futuro da Europa, em Democracia não há europeísmo que resista a isso!

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